Azinhaga dos Besouros, Fim do Mundo, Mira Loures, 6 de Maio, Talude… Estes nomes conjuram histórias e definem os bairros periféricos ao longo da chamada Estrada Militar (parte de um conjunto de fortificações construído no final do século XIX, pensado para proteger Lisboa), muitos deles já desaparecidos. Mónica de Miranda mapeou-os fotograficamente desde 2009, criando um arquivo visual que congrega muitos dos temas que tem trabalhado: questões identitárias, a diáspora africana, geografias com simbolismo histórico. Contos de Lisboa faz uma reflexão sobre as transformações urbanas vividas na cidade, hoje alvo de euforia. Diz Bruno Leitão (cocurador, com Sofia Castro) que esta investigação artística “não se esgota na demonstração de que existe uma cidade que resiste e cresce fora do seu centro: a artista mergulha num processo inquisitivo e humanizante destes lugares e ao ficcionar estes espaços cria um exercício de empatia”.
A exposição reúne diferentes séries numa cenografia despojada, alinhada com “a fragilidade de ter uma casa demolida”, sublinha Sofia Castro. A instalação Contos de Lisboa evoca a cidade “rasurada”, com uma parede de imagens de objetos gastos, retirados de lares desaparecidos (um dicionário rasgado, uma ventoinha, uma cassete de VHS com o título Arma Mortífera…), acompanhados de contos de Djamilia Pereira de Almeida, Kalaf, Ondjaki, Yara Monteiro e Telma Tvon, audíveis em auscultadores.
Em Timeline, há uma panorâmica da longa rua com escombros de há anos, feridas suspensas no tempo. Casa Portuguesa mistura fotos de casas extintas com maquetas, problematizando questões como o direito à habitação. E na fotografia 6 de Maio, há uma guerrilheira de camuflado – “o sonho da imigração ficou demolido, é como uma luta armada, luta binária que se afirma entre passado e presente, entre a utopia de um futuro que se perdeu e a realidade”, descreve Bruno Leitão.
Contos de Lisboa > Arquivo Municipal de Lisboa – Fotográfico > R. da Palma, 246, Lisboa > T. 21 884 4060 > até 16 mai, seg-dom 10h-19h > grátis