Não deixa de ser curioso que dois dos nove títulos nomeados para o Oscar de melhor filme sejam apropriados para um público infantojuvenil: Jo Jo Rabit, de Taika Waititi, uma comédia passada na Segunda Guerra Mundial, com risco e rasgo, e Mulherzinhas, mais uma adaptação desse clássico que, não sendo brilhante nem particularmente ousada, nos deixa com as emoções à flor da pele.
O romance de Louisa May Alcott (publicado em 1868) tem sido objeto de adaptações cinematográficas desde o cinema mudo; algumas das mais marcantes foram as de George Cukor, em 1933, e de Mervyn LeRoy, em 1949. A adaptação anterior a esta foi feita em 2018, com realização de Clare Niederpruem, que transpôs a história para os dias de hoje.
Esta versão de Greta Gerwig, mais conhecida como atriz e argumentista, tem o inegável mérito de colocar uma neblina nostálgica em permanência ao longo de todo o filme, criando repetidos momentos de comoção. Isso é feito através do recurso constante a analepses e prolepses, que tornam a estrutura algo confusa, mas emocionalmente eficaz. Há também uma dulcificação de cenários e ambientes, como que a querer integrar o filme claramente no ambiente infantojuvenil, temperando-o também com pequenos anacronismos de mentalidades e costumes (não vem mal maior ao mundo por isso). Este Mulherzinhas traz a vantagem de propor uma reflexão sobre as questões de género, mais flagrantes no século XIX, mas ainda hoje pertinentes.
Mulherzinhas > De Greta Gerwig, com Saoirse Ronan, Emma Watson, Florence Pugh > 135 minutos