Aos 14 anos, teve o seu primeiro grande sucesso no pop francês, com Joe le Taxi. Foi o ponto de partida para uma fulgurante carreira internacional, na música e no cinema, em francês e em inglês; casar-se-ia com Johnny Depp e quase se afirmou como uma nova Jane Birkin. Mais de 30 anos depois, encontramos Vanessa Paradis, com a idade a pesar-lhe no rosto, reinventada no papel de produtora porno-gay, na longa-metragem de estreia do francês Yann Gonzalez. Realizador conhecido de quem acompanha o Curtas de Vila do Conde, recupera a estética suja e naïf do porno-gay dos anos 70, para contar uma história de crime, amor, sexo, drogas e loucura, desenhada como uma comédia de personagens.
Reconhece-se a frescura dos primeiros filmes de Almodóvar (sobretudo de Pepi, Luci, Bom e Outras Tipas do Grupo, 1980) mas duplica-se o risco e o rasgo, cruzando estéticas e revelando um cuidado formal na estilização de pormenores por vezes fetichistas (como a faca do assassino). Anne Parèze, a personagem de Vanessa, é uma mulher decadente, de carisma junkie, doentiamente apaixonada pela sua editora de imagem. Coração Aberto diverte-nos na hilariante construção dos argumentos dos filmes, ao mesmo tempo que boa parte do elenco vai sendo assassinado por um vulto misterioso… Anne, desconcertante, serve-se de pormenores da investigação para construir o guião dos filmes seguintes. Yann Gonzalez cria assim, deliberadamente, uma confusão entre os planos da realidade e da ficção, de forma arrojada, a favor de uma proposta estética diferente, mantendo sempre a vertente fantasiosa.
Veja o trailer do filme:
Coração Aberto > De Yann Gonzalez, com Vanessa Paradis, Nicolas Maury, Kate Moran > 102 minutos