Este inspirado (e longo) título de exposição foi encontrado entre os escritos de Júlio Pomar, no livro Da Cegueira dos Pintores. Capítulo: Pisar o Mesmo Caminho. A sombra tutelar do passado atravessa, também, o projeto de Marta Rema, criadora multidisciplinar. “A exposição explora essa tentativa de compreender, e de refletir sobre, o que é o silêncio (um conceito em extinção nesta sociedade ruidosa) e de que forma é que as artes plásticas o contemplam nas suas múltiplas dimensões – imaginária, política e real”, explica Marta à VISÃO Se7e. Um fascínio suscitado pela sua biografia: “Este tema ocupa-me desde criança. A primeira vez em que pensei sobre o silêncio foi quando, aos 10 anos, descobri que era surda de um ouvido e que poderia ter uma futura surdez completa. Desde então, empreendi uma pesquisa intensa, ouvindo especialistas, procurando estar em silêncio… Agora, estou pronta para ouvir os outros sobre o silêncio.”
A curadora convocou propostas visuais muito diversificadas. Como Descanso na Fuga para o Egipto (I676) da pintora Josefa d’Óbidos, escolhida devido à presença de São José, o “santo do silêncio”, ou a programática imagem de Helena Almeida, Ouve-me (1979), e o vídeo de Sandro Resende, Raquel, em que este filmou uma utente do Hospital Júlio de Matos a comer, alheada – “o silêncio a que os pobres, os loucos, são votados numa sociedade em que os estigmas subsistem”, alerta a curadora. Juntam-se-lhes obras de Fernando Calhau, Rui Chafes, João Pedro Vale & Nuno Alexandre Ferreira, Pedro Vaz, ou os “desenhos da prisão”, realizados por Júlio Pomar, no Forte de Caxias em 1947.
Muitas Vezes Marquei Encontro Comigo Próprio no Ponto Zero > Atelier-Museu Júlio Pomar > R. do Vale, 7, Lisboa > T. 21 588 0793 > até 21 abr, ter-dom 10h-13h/14h-18h > €2