Foi uma Santíssima Trindade formada por força das circunstâncias e do calendário das companhias, mas o certo é que os três espetáculos apresentados no Teatro de Vila Real (TVR), até ao final do ano, situam-se algures entre o céu e a terra. O primeiro, Clarão, da Circolando, parte do Santuário de Panóias, monumento único na Península Ibérica. Ligado aos primórdios do sagrado, erigido sobre imponentes fragas graníticas, foi testemunha de rituais de transe, iniciação e purificação da era panteísta, em que havia uma identificação de deus com as forças da natureza. A companhia explorará este “universo noturno, de medos e desconhecidos avassaladores”, recorrendo a diálogos fecundos entre dança, teatro, som e luz.
Com estreia marcada para este sábado, dia 24, o espetáculo, dirigido por André Braga e Cláudia Figueiredo, terá um grupo da comunidade local a juntar-se ao elenco profissional. Este será o último momento do Algures a Nordeste, projeto conjunto do TVR e do Teatro Municipal de Bragança (TMB), que para além de um festival de dança contemporânea, encomendou quatro criações originais, inspiradas no património material e imaterial da região transmontana. “Foi possível criar espetáculos com uma escala fora do nosso alcance, que depois circularam pelo País, e também trabalhar mais profundamente com companhias profissionais e envolver a população”, conta Rui Ângelo Araújo, diretor artístico do TVR.
Nos dias 29 e 30 de novembro, é a vez de chegar ao palco uma tríade angelical. Ángel Fragua, ator do Peripécia Teatro, companhia sedeada em Vila Real, lança-se no segundo projeto a solo com a encenação da peça Anjo, de Henry Naylor, que alcançou grande sucesso mundial e é pela primeira vez apresentada em Portugal. Um monólogo interpretado por Teresa Arcanjo, baseado na história verídica de uma jovem síria da pequena cidade de Kobane, capturada pelo Estado Islâmico e vendida como escrava sexual, que acaba por conseguir libertar-se, tornando-se uma das combatentes das Unidades Femininas de Proteção. “Terá grande impacto, não só pela atualidade do tema, como pela representação da atriz”, acredita o diretor artístico do TVR, que também apoiou esta produção. “O critério dos apoios nunca pode ser regionalista, privilegiamos a qualidade dos espetáculos”, sublinha.
De assuntos mais terrenos tratará Pas de Deux, o primeiro espetáculo do TEN – Teatro Experimental do Nordeste, em cena a 28 e 29 de dezembro. O coletivo, formado por atores transmontanos, fez uma adaptação profunda da obra Nada de Dois, de Pedro Mexia, um retrato contundente das relações conjugais dos nossos dias. Uma estreia que promete dar outros frutos.
Clarão > Teatro de Vila Real > Alameda de Grasse, Vila Real > T. 259 320 000 > 24-25 nov, sáb 21h30, dom 16h > grátis
Anjo > Teatro de Vila Real > Alameda de Grasse, Vila Real > T. 259 320 000 > 29-30 nov, qui-sex 21h30 > €5
Pas de Deux > Teatro de Vila Real > Alameda de Grasse, Vila Real > T. 259 320 000 > 28-29 dez, sex-sáb 21h30 > €3