Pedro Cabrita Reis pode não estar ligado ao passado da Cooperativa Árvore, nem ter frequentado as oficinas, as apresentações ou conversas, mas conhece bem o percurso e a história desta instituição cultural e artística do Porto. “Não é preciso ter vindo cá todas as semanas para saber o que esta representa, seja na massa crítica, na cidadania ou na história das artes plásticas”, começa por nos dizer. A conversa com a Visão Se7e acontece à mesa, na companhia de um charuto, numa sala contigua à exposição Algumas peças de bronze, uns quantos pratos em cerâmica nas paredes e ainda um indeterminado número de trabalhos em papel, que pode ser visitada até 30 de junho. Todas as obras são inéditas, a maioria feitas especificamente para esta ocasião.
A proposta surgiu numa das últimas visitas que fez ao Porto, aquando da montagem da exposição de Jorge Pinheiro no Museu de Serralves. Era evidente para o artista que um convite para expor na Árvore é sempre irrecusável, mais ainda porque queria fazer parte desta história. “Espero trazer um pequeno contributo para consolidar o que existe [na instituição] há tantos anos”, reforça.
São quatro as linhas de trabalho visíveis no salão à entrada, e nas duas salas de exposição da Árvore. Com um estilo único que flui de forma orgânica entre diferentes meios, Pedro Cabrita Reis reúne, nesta exposição, onze peças de cerâmica, totalmente criadas nas oficinas da instituição, situadas no piso inferior, vinte e cinco pequenas obras em bronze e muitos desenhos sobre papel. Neste últimos, podem-se observar fotografias de momentos captadas no jardim da Árvore. Embora sem focar a vista ímpar que os visitantes observam do exterior, com o Douro e a Alfândega em fundo, e dando toda a atenção às camélias e às laranjas do quintal. Há ainda a série Casa Queimada, de pinturas sobre madeira, e a série Suite Fossil, de pintura sobre acrílico.
Formado na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, e um dos artistas portugueses mais conhecidos da atualidade, Pedro Cabrita Reis encanta-se com a intimidade que existe na Cooperativa Árvore oferece. “Não é um cubo branco, de museu, é uma casa que teve outras funcionalidades no passado, mas é óbvio que é uma casa de artistas”, atira.
Presente em inúmeras exposições em Portugal e no estrangeiro, como a 9ª Documenta de Kassel, na Alemanha, e a 24ª Bienal de São Paulo, no Brasil, tendo representado ainda Portugal na Bienal de Veneza, em Itália, Pedro Cabrita Reis desenvolve peças numa grande variedade de formas de expressão, desde o desenho à pintura, da escultura às instalações de grandes dimensões. “Não sou pintor ou escultor, sou um artista”. Aliás, é comum criar em diferentes suportes, quase, em simultâneo. “Trabalho em várias coisas ao mesmo tempo e, de facto, não consigo encontrar nenhuma parede, por muito que invisível que ela seja, não há obstáculos”. “A criatividade é um estado natural, é a única coisa que eu faço”, diz
Envolve-se sempre na montagem das exposições, pois é uma parte do trabalho que recusa delegar. Nunca é um assunto deixado ao acaso, dele depende muita da relação e encontro, do confronto e diálogo entre as obras. “É fundamental a forma como as peças falam, ou não, umas com as outras”. Para Pedro Cabrita Reis esse trabalho permite à própria mostra tornar-se em si mesma, de alguma maneira, uma obra de arte. “Uma exposição bem construída pode lançar uma luz mais esclarecedora sobre aquelas obras, oferecendo chaves de leitura”, salienta. Um diálogo para ouvir e ver.
Algumas peças de bronze, uns quantos pratos em cerâmica nas paredes e ainda um indeterminado número de trabalhos em papel > Cooperativa Árvore > R. Azevedo de Albuquerque, 1 , Porto > T. 22 207 6010 > Até 30 jun; seg-sex 9h30-19h, sáb 14h-19h > grátis