Recorda-se do cortejo de galinhas empalhadas que seguia um galináceo com manto e coroa de imperador, apresentado no Museu Berardo em 2013? A peça Thirteen Hours tem ecos em Fuck It’s Too Late, título do néon e da primeira individual em Portugal de Binelde Hyrcan: o artista angolano, 35 anos, quis enviar uma galinha para o espaço, somando-a à cadela Laika e aos muitos chimpanzés da exploração espacial. O bicho tem peso na sua biografia: “A minha mãe vendia galinhas, o meu pai era agricultor, em pequeno eu brincava com elas no quintal”, conta à VISÃO Se7e. Assegura que até se tentou produzir um protótipo de transporte da ave com uma agência espacial, mas sem êxito: “É proibido. Não temos direito de enviar nada para o espaço. Não podemos ter uma bandeira de Angola no espaço.” Ou seja, o espaço está colonizado. Regresso forçado à Terra? Ganhou a rua de Angola, aqui replicada em jacarés e bulícios, néons e caixas de luz. “Quis apostar em novos media, experimentar o mais possível”, explica Binelde.
Esta exposição é o seu ponto de vista artístico sobre a escondida economia de afetos, vivida por mulheres, candongueiros, sobreviventes. “Este é um ver com os sentidos.” A cacofonia desdobra-se em instalação, pintura, fotografia, vídeo. “Binelde é um artista que usa e mistura todos os media, o que lhe interessa é o tema que se mantém num registo trágico-cómico”, sublinha a curadora Ana Cristina Cachola. Um vídeo mostra os vendedores de crocodilos que afiançam ser possível vaciná-los contra a raiva: os répteis ficam imobilizados… Uma instalação trabalha notas de kwanza intervencionadas com retratos dos presidentes angolanos, diálogo entre a moeda local e o dólar. Leituras sobre o poder e a História? Claro. Diz Hyrcan: “Não sou um artista político, mas faço arte politicamente.”
Balcony > R. Coronel Bento Roma, 12A, Lisboa > T. 21 133 9866 > 17 nov-13 jan, ter-sex 14h-19h30, sáb 11h-15h