Ninguém diria que, há 25 anos, o galerista Fernando Santos iria para a Miguel Bombarda. E que a rua viria a transformar-se no quarteirão das artes do Porto, “por uma coincidência perfeitamente natural”. Ali abriu, no número 526, “porque surgiu um armazém que estava fechado” e resolveu adaptá-lo a galeria. Este sábado, 11, as bodas de prata são assinaladas com a inauguração de uma coletiva de 20 artistas que marcaram o percurso da galeria, alguns dos quais realizaram obras especificamente para esta data. Entre eles, estão Pedro Cabrita Reis – que apresentará uma escultura em ferro ao alto –, João Louro (uma peça de luzes com néon), Jorge Galindo, Pedro Calapez, Priscilla Fernandes, Nikias Skapinakis (artista que expõe na galeria desde sempre), Gerardo Burmester, António Olaio, além de obras pouco conhecidas de artistas como Alberto Carneiro e Álvaro Lapa.
Fernando Santos começou como galerista em Amarante há 40 anos, por influência do pai, que esteve ligado ao Museu Amadeo de Souza Cardoso. Foi ai que teve a primeira galeria. Ao Porto chegou a convite da Galeria Nasoni e, sete anos depois, abriu a galeria em nome próprio em frente ao Palácio de Cristal, antes de se ter instalado na Rua Miguel Bombarda, onde representa atualmente cerca de 40 artistas portugueses e estrangeiros. “Isto é mais que um negócio. É uma relação de amizade. Entre o artista, o galerista, o colecionador, o consumidor final, o comprador”, constata Fernando Santos, para quem é lamentável que não haja mais instituições no País a comprar arte. “Vivemos do colecionador privado”, reforça.
É com base na relação de amizade estabelecida ao longo de muitos anos com os artistas que representa ou expõe na galeria, aliada a uma programação “séria e profissional” e ao empenho constante do mentor, que a imagem da Fernando Santos foi sendo construída. “Somos agentes culturais”, afirma o galerista que acalenta o sonho do País vir a ter um centro de arte contemporânea portuguesa. “Falta um museu com uma coleção que seja uma referência da arte a partir do início do século”, nota.
Vinte cinco anos depois, Fernando Santos só lamenta que a cidade pense só “na parte da Baixa, onde o turista passa”. “O Porto precisa de ser embelezado. Esta rua [de Miguel Bombarda] é única”, defende o galerista. “Temos que ter iniciativas de referência na cidade e, num País aberto ao turismo, tem de haver motivos de vinda. A cultura é uma das áreas que move muita gente”, considera.
A euforia turística que se vive no País não passa ao lado do quarteirão das artes. São cada vez mais os estrangeiros a ter o Porto no roteiro de viagem, mas é preciso que “levem de cá uma boa imagem”, conclui.
Galeria Fernando Santos > R. Miguel Bombarda, 526, Porto > T. 22 606 1090 > 11 nov-5 jan, ter-sex 10h-12h30, 15h-19h30, seg e sáb 15h-19h30