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Em cena, Cristina Vidal é ponto: de papéis na mão, sopra o texto aos atores que, depois, o repetem. Os sussurros e os movimentos são os que faz habitualmente nos ensaios e nos bastidores
Christophe Raynaud de Lage
Uma peça protagonizada pela definição teatral de um antiprotagonista: é em torno da figura do “ponto”, elemento responsável por relembrar as falas aos atores em cena, que gira Sopro. E não é um ponto qualquer. Cristina Vidal, o único elemento sempre em cena, é a mais antiga ponto profissional em atividade em Portugal, levando já 25 anos no D. Maria II e quase 40 de carreira.
É com base em Cristina que o diretor artístico do TNDMII, Tiago Rodrigues, escreveu Sopro, a convite do festival francês de Avignon, onde a peça se estreou em julho. Segundo o próprio, com o objetivo de “deslocar o olhar do espectador para quem está na sombra, numa espécie de homenagem aos bastidores, à máquina invisível que movimenta o visível no teatro”. Uma homenagem que se concretiza, na prática, numa ponto sobre a qual recaem as luzes da ribalta e que, através de ligeiros “sopros”, usa os atores profissionais em cena para interpretar a sua própria voz e gestos, num relato “muito inspirado, mas muito transformado” das histórias de vida de Cristina Vidal e também das “centenas de profissionais dos bastidores que passaram pelo D. Maria”.
Por intermédio desta profissão em declínio (Cristina, que “se arrependeu várias vezes de ter aceite o papel”, conta Tiago, é uma dos dois últimos pontos em atividade no País), Sopro procura não só reenquadrar o papel dos agentes teatrais, como também, no processo, refletir sobre a “máquina do mundo, as pessoas que vivem e atuam nos bastidores da sociedade, e que escolhem dignamente servir, existir em função do outro”.
Sopro > Teatro Nacional D. Maria II > Pç. Dom Pedro IV, Lisboa > T. 21 325 0800 > até 19 nov, qua 19h, qui-sáb 21h, dom 16h > €5 a €17