Expoente do expressionismo lírico, a peça Despertar da Primavera – Uma Tragédia de Juventude, escrita em 1891 por Frank Wedekind, põe em cena um grupo de adolescentes em conflito com uma sociedade conservadora e moralista. Hoje, a repressão da sexualidade descrita pelo autor é datada, mas, para o Teatro Praga, o texto oferecia outras possibilidades: nomeadamente, uma abordagem à repressão sofrida pelas identidades alternativas, encaixadas no termo queer, numa apropriação de ideias que estão para lá da questão de género e implicam a rejeição de um enquadramento dual do mundo. É isso que fazem em Despertar da Primavera, que teve antestreia em Ílhavo e estreia, duas semanas depois, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, de onde partiu o convite para a encenação.
A fuga aos estereótipos percorre todo o espetáculo. “Sempre que conseguíamos identificar uma coisa com um tempo, um género ou uma ideia, procurávamos tirar-lhe o tapete”, conta o encenador José Maria Vieira Mendes, também responsável pela tradução. Um jogo constante com a imagética que segue a mesma lógica de Zululuzu, a anterior peça dos Praga. A brincadeira estende-se à linguagem, criando-se “uma espécie de língua franca do espetáculo, um português estranho ao que se escreve, ouve e fala diariamente, contaminado por palavras de outras origens e uma sintaxe distinta”, descreve. Uma forma de estabelecer um paralelismo com o texto de Wedekind, dono de um estilo disruptivo, estranho ao seu tempo. Em palco, a luta de gerações foi transformada numa colaboração intergeracional, com os atores dos Praga (André Teodósio, Cláudia Jardim, Diogo Bento, Patrícia da Silva, Pedro Zegre Penim) a contracenarem com atores mais jovens. A reger a cenografia está a cor rosa da bandeira dos movimentos transgénero. “Temos um pink show”, comenta Vieira Mendes. Ao fundo do palco, a palavra New, a anunciar um mundo de novas possibilidades.
Despertar da Primavera > Centro Cultural de Belém > Pç. do Império, Lisboa > T. 21 361 2400 > até 27 fev, sáb e seg 21h, dom 16h > €15 a €18