É assim nas peças de teatro do irlandês Enda Walsh: há sempre uma porta por onde as personagens podem fugir, mas elas nunca o fazem. O Novo Dancing Elétrico, que os Artistas Unidos estreiam no Teatro da Politécnica, em Lisboa, não foge à regra. Fechadas dentro de casa estão duas irmãs e, com elas, uma terceira, mais nova, que entra e sai para trabalhar na fábrica de conservas, onde põe o mar dentro de latas e transforma os peixes em números.
Naquela sala modesta encerram-se corações amarfanhados e despedaçados por histórias de amor mal sucedidas. Ali vivem, num jogo repetido todos os dias, três mulheres mal amadas, para quem a vida não acabou, mas parou literalmente, há dezenas de anos, numa certa noite passada no tal Dancing Elétrico.
Uma peça “muito pessimista”, há de descrever Jorge Silva Melo, que não resiste aos textos de Enda Walsh, pelo talento do dramaturgo pôr em cena “gente muito pobre com uma capacidade narrativa fantástica, entre o bíblico e o poético”. “É fascinante como ele salva estas personagens pela dignidade literária e de efabulação. Nunca as achincalha, mas dignifica-as pela poesia”, sublinha o encenador, que chamou para esta peça as atrizes Andreia Bento, Antónia Terrinha e Isabel Muñoz Cardoso e, ainda, o ator Pedro Carraca.
Dentro daquela casa, percebemos mal se acende a luz do palco, só existe tristeza e ressentimento. Não há de haver ressurreição possível nesta tragédia grotesca. E, sentados na plateia, dentro da mesma sala, havemos de ficar fechados com aquelas três mulheres, a ver a porta trancada ao fundo do palco.
O Novo Dancing Elétrico > Teatro da Politécnica > R. da Escola Politécnica, 54, Lisboa > T. 96 196 0281 > até 17 dez, ter-qua 19h, qui-sex 21h, sáb 16h e 21h > €6, €10