No Family Film Project (FFP) caminhou-se sempre por uma fronteira híbrida, algures entre o público e o privado, o popular e o íntimo, o global e o local, o mainstream e o alternativo, a ficção e o registo documental. Nesta quinta edição, o festival trabalha as Formas Marginais, destacando filmes que tocaram o experimental, o casual, o precário, mas também temas ligados à exclusão, à não-pertença e à interdição. Numa era de fácil acesso às tecnologias da imagem, procurou-se o espelhamento rico e eclético da intimidade, da família, da etnografia e do arquivo captado por novos olhares cinematográficos.
O festival de cinema arranca de forma não convencional, esta quarta, 9, às 19h, com uma performance da artista italiana Marika Pensa, no Teatro Municipal Rivoli, criada a partir do texto Ventiquattrore, do filósofo italiano Mario Perniola. Será também ele o protagonista da conferência que se realizará na quinta-feira, 10, às 15h, na Faculdade de Letras, subordinada ao tema desta edição, Formas Marginais, sobre os novos lugares explorados pela arte contemporânea, que contará ainda com os contributos do realizador Filipe Martins, dos artistas e professores João Sousa Cardoso e Miguel Leal, assim como da própria Né Barros, coreógrafa que assume a direção do Family Film Project. “Não queremos ser uma mera mostra, em cada edição procuramos criar diferentes possibilidades de refletir sobre este tipo de produção fílmica”, explica. Destaque ainda para a masterclass do realizador israelita Barak Heymann, na quinta-feira, 10, da Heymann Brothers Films, sobre a linguagem dos documentários.
Esta produtora terá, aliás, duas fortes obras na secção competitiva: Mr. Gaga (2015), sobre o coreógrafo israelita Ohad Naharin; e Who’s Gonna Love me Now (2016), a história real de um ex-militar homossexual que procura reatar os laços familiares. Mas há um grande leque de retratos únicos, sensíveis e difíceis em competição (são, no total, duas dezenas de filmes de dezasseis nacionalidades), como La Laguna (2016, EUA), de Aaron Schock que acompanha a vida de um menino Maia no interior das florestas tropicais do sul do México, A Family Affair (2015, Holanda), com o realizador Tom Fassaert a mergulhar nos mitos e histórias à volta da sua avó, ou An unfinished film, for my daughter Somayeh (2015, Irão), de Morteza Payeshenas, documentando os esforços para repatriar a sua própria filha de um campo de treino no Iraque para o Canadá.
“Optamos por selecionar menos filmes, afunilando para uma linha mais de investigação e de questionamento”, diz Né Barros. O realizador convidado desta edição será João Canijo, exibindo-se três das suas longas-metragens mais recentes: Sangue do Meu Sangue (2011), É o Amor (2013) e Portugal – Um Dia de Cada Vez (2015). Filmes que, de alguma forma, também se identificam com o universo familiar e íntimo do FFP.
Family Film Project > Teatro Municipal Rivoli, Pç. D. João I e Passos Manuel, R. Passos Manuel, 137, Porto > T. 22 339 2201/ T. 22 203 4121> 9-13 nov > sessões por €3, passe geral €10