Ir ao encontro da História vivida, e não apenas da História escrita, é o objetivo da trilogia teatral de André Amálio sobre o fim do colonialismo português. Depois de Portugal Não É Um País Pequeno, o segundo capítulo deste ciclo – Passa-Porte – reflete sobre as alterações à lei da nacionalidade portuguesa após 1975 e as suas implicações para os africanos brancos e negros. Dando voz a testemunhos reais, o espetáculo conta como a descolonização foi vivida por quem abandonou, mas também por quem decidiu ficar em Angola e Moçambique, países que acabavam de conquistar a independência.
“Em muitos casos, a identidade das pessoas com quem falei é completamente diferente da nacionalidade que têm”, explica André Amálio. O passaporte expõe-se, assim, como o elemento mais redutor da biografia de cada um. “Posso tomar banho vestido?”, era um dos pedidos incessantes de quem chegava ao frio da “metrópole” vindo do calor de África. Em palco, usam-se auscultadores para ouvir os testemunhos reais, fielmente reproduzidos. Sem cair na facilidade da caricatura, a interpretação capta “a impressão digital que é a voz”.
Além de André Amálio, estão em cena a bailarina e coreógrafa checa Tereza Havlickova (que traz uma visão de fora) e a cantora moçambicana Selma Uamusse (que representa o povo colonizado) – as suas interpretações musicais são dos momentos mais marcantes do espetáculo, cocriado pelos três. São estas vozes que ajudam a destruir o mito do “brando” colonialismo português e a desvendar as histórias da História que ficam por contar.
Passa-Porte > Teatro Municipal Maria Matos > Av. Frei Miguel Contreiras, 52, Lisboa > T. 21 843 8801 > 4-6 nov, sex 21h30, sáb 16h30 e 21h30, dom 18h30 > €5 a €12