Talvez seja um dos piores filmes de Woody, mas não deixa de ser uma das melhores comédias estreadas em 2016 em Portugal. Basta ser Woody Allen para não ser assim tão mau quanto isso. Em Café Society, Allen regressa aos Estados Unidos, e também à sua amada Nova Iorque, para fazer um filme de época (anos 30), dividido entre as duas costas, em que aproveita, nas entrelinhas, para relevar a futilidade do glamour de Los Angeles, reafirmando que Nova Iorque é que é.
Sendo mister nas comédias, o seu filme desenha-se entre caricaturas. Só que Woody Allen opta por acentuar esses traços caricaturais nas personagens secundárias (o gangster, o intelectual de esquerda, o pai judeu, a mãe judia, a estrela de cinema), mas acaba por os atenuar nas personagens principais, o que, de certa forma, baralha o espectador e sobretudo nos deixa dúvidas no triângulo amoroso. A relação entre Vonnie e Phill não é nada convincente.
O melhor do filme está efetivamente nas personagens secundárias e na intriga lateral. E com belas tiradas, daquelas que mais tarde figurarão nos livros de citações. Como esta: “Vive cada dia como se fosse o último e um dia terás razão.” Ou outra, que serve de moral da história: “Sócrates diz que uma vida não escrutinada não merece ser vivida. Mas a vida escrutinada não é pera doce.” Tudo isto é Woody Allen.
Café Society > De Woody Allen, com Jesse Eisenberg, Kristen Stewart, Steve Carell > 96 min