Naquela manhã de 6 de agosto de 1966, pelas dez e meia, ouviu-se o hino nacional, 21 tiros em salvas compassadas e ainda foguetes e morteiros que rebentavam nas alturas. Estava dado o início da cerimónia de inauguração da Ponte Sobre o Tejo (nome oficial), que reuniu, do lado de Almada, todo o Governo da Nação e o presidente da República Américo Tomás. De abençoar a maior obra pública até então realizada em Portugal, se encarregaria o Cardeal Cerejeira, então Patriarca de Lisboa, enquanto o “agradecimento” à figura central do Estado Novo ficaria gravado em placa, chamando-lhe Ponte Salazar. Tudo registado em fotografias, já se vê, tal como tinha sido a construção da “gigantesca” estrutura de aço que passou a ligar as duas margens do Tejo. E que a exposição 50 Anos Ponte 25 de Abril: memórias em arquivo mostra agora no Centro de Informação Urbana de Lisboa, no Picoas Plaza, aberta ao público até 27 de outubro.
A iniciativa é do Arquivo Municipal de Lisboa que, a partir da grande variedade de documentação à sua guarda, selecionou uma série de fotografias, plantas e projetos expostos agora pela primeira vez. “Foi uma surpresa, mesmo para nós que sabemos o que existe, perceber a importância que a Câmara Municipal de Lisboa teve em todo o processo”, diz Ana Saraiva, investigadora do Arquivo Municipal de Lisboa. “Fala-se muito na construção da ponte, mas todo este projeto foi muito mais do que isso. Implicou estudos e projetos para os acessos rodoviários e ferroviários, a construção de infraestruturas urbanas, expropriações de terrenos, indemnizações e o realojamento de pessoas”, explica. Na exposição está, por exemplo, a planta e fotografias do Bairro do Relógio, construído pela Sorefame (uma das empresas que fazia parte do consórcio da ponte), junto ao Aeroporto da Portela. A imagem do terreno onde está agora plantada a Vinha de Lisboa ajuda a situar a localização das casas pré-fabricadas, demolidas nos anos 1980. Já as fotografias da construção dos acessos em Alcântara permitem perceber como era, à época, esta zona. E das muitas propostas de ligação rodoviária que foram apresentadas, também ali em exposição, ficamos a saber que muitas não saíram do papel. Como o projeto que previa uma via de ligação à autoestrada e que incluía a construção de um viaduto sobre o Aeroporto. Tudo disponível para consulta no site do Arquivo Municipal “porque esta é matéria de estudo que interessa a áreas tão diversas como a Sociologia, Antropologia ou a Arquitetura”, nota Ana Saraiva.
A partir de setembro serão feitas visitas guiadas, por marcação, conduzidas pela equipa de investigadores do Arquivo Municipal de Lisboa que coordenou a exposição (além de Ana Saraiva, participaram Denise Santos e Nuno Martins). E em outubro, nos dias 26 e 27, está marcado um ciclo de conferências com a participação da Faculdade de Arquitetura de Lisboa.
Este sábado, 6, a RTP 1 estreia o documentário A Ponte aos 50, do jornalista Joaquim Vieira e do realizador Jorge Paixão da Costa. Centrado nas transformações sociais que a então Ponte Salazar trouxe à região da Grande Lisboa, o documentário conta como a obra mudou para sempre a vida das pessoas através do testemunho de três gerações de famílias de uma e outra margem. Para ver a partir das 21 e 30.
50 Anos Ponte 25 de Abril: memórias em arquivo > Centro de Informação Urbana de Lisboa > Picoas Plaza > R. do Viriato, 13, Lisboa > Até 27 out, seg-sex 10h-20h > grátis