O sino toca a anunciar o início do combate de boxe. Hão de ser 12 rounds, três minutos cada um e com um intervalo de um minuto entre eles. Hão de cruzar-se as luvas no ar e seguir certeiras contra o corpo do adversário. Cláudia Dias, bailarina, coreógrafa e agora também pugilista, enfrenta Jaime Neves, treinador de Muay Thai, em Segunda-feira: Atenção à Direita, um espetáculo criado com o escritor e encenador Pablo Fidalgo Lareo. É dele a voz que, enquanto decorre o combate, nos bombardeia com perguntas, umas a seguir às outras. “Dos territórios da micro à macropolítica”, resume Cláudia Dias, tudo se questiona nesta peça que agora se estreou em Portugal, no Festival Alkantara, em Lisboa, e agora no FITEI, no Porto.
“O encontro com Pablo foi uma luta permanente, mas desacordo não significa rutura na criação artística. As nossas discordâncias foram sempre edificantes. E isso está plasmado na estrutura do espetáculo e no texto feito com mais de 200 perguntas”, descreve a coreógrafa. Cláudia Dias começa assim o ciclo 7 anos, 7 peças, nascido da vontade de contrariar a ideia de que, em tempo de crise, futuro só o de curto prazo. “Também temos direito a construir um futuro”, defende. O projeto passará pelos palcos, mas também fora deles: 7 anos, 7 escolas levará Cláudia Dias a trabalhar com jovens de Almada; 7 anos, 7 livros resultará na edição dos textos dos espetáculos, ilustrados por António Jorge Gonçalves; e caberá a Bruno Canas realizar um documentário sobre todo o processo. Para cada um dos sete espetáculos convidará um artista, partindo sempre do mesmo dispositivo: “duas pessoas de pé, viradas uma para a outra”. O que resultará de cada encontro, o futuro dirá. Por agora, temos um combate – em palco, mas também com os espectadores e, espera Cláudia Dias, dos espectadores com eles próprios. “A verdadeira luta a fazer está fora da sala de espetáculos”, diz.
Segunda-feira: Atenção à Direita > Teatro Rivoli > R. do Bonjardim 143, Porto > T. 22 339 2201 > 10-11 jun, sex 21h30, sáb 19h > €7