Uma cabeça que parece explodir em dezenas de pedras, um corpo de onde saltam cabeças, uma pedra que se corta ao meio com uma faca, como se fosse manteiga. Um homem-escada, uma mulher vulcão, outro homem com uma perna em fole e outro ainda com o corpo formado por bolas. As imagens criou-as o ilustrador André da Loba para a sua nova exposição A Pedra e o Charco, na Galeria Underdogs, em Lisboa – imagens a preto e branco, com escalas de cinzento, sobre fundo de várias cores em tom pastel. Simples e, ao mesmo tempo, tão bizarras e perturbantes que não nos deixam a imaginação em paz. São estas as pedras que André da Loba nos dá para que as possamos arremessar ao nosso charco de tranquilidade e normalidade. Nas paredes da Underdogs estão telas pintadas a spray e stencil, com acabamentos à mão – “vinhetas”, como lhes chama o artista, que as olha como se fossem uma banda desenhada sem texto para a qual cada um de nós tem de encontrar o seu sentido. “É como se eu pedisse às pessoas: ‘pára e faz uma história, conversa comigo’”, descreve.
Com os 32 desenhos nas paredes e as seis pequenas esculturas de pó de pedra espalhadas pela sala, temos uma narrativa abstrata, à espera de ganhar ligações – e são várias as possibilidades em aberto, sempre oscilando entre uma dimensão mais plana e outra com volumetria, e propondo múltiplas leituras. André pensou as imagens como momentos saltam à vista no turbilhão das cidades e do quotidiano. São “pequenas ideias, pequenas pedrinhas que se atiram ao charco e que fazem ondas, que nunca são iguais umas às outras nem se conseguem reproduzir”, nota. “Nestes tempos de correria, gostava que as pessoas se deixassem submergir nestas imagens e trouxessem para esta exposição alguma coisa delas e seguramente mais do que levam daqui, aumentando a exposição com o seu olhar”, reforça André da Loba, cada vez mais convicto de que o que faz deve pressupor a interação, seja numa exposição, seja num livro (como nos que editou mais recentemente, Obscénica, pela Orfeu Negro, e Roturas e Ligamentos, pela Abysmo). “A arte tem que ser em diálogo, não a sei conceber de outra maneira”, acrescenta.
Da exposição faz ainda parte um livro, Splash, produzido numa pequena edição de 25 exemplares em português e 25 em inglês, com imagens serigrafadas e texto impresso em papel vegetal, de forma a se sobreporem. E é ali que conhecemos a forma como André da Loba junta na sua cabeça todas aquelas figuras que criou. Uma exposição para causar, no mínimo, fortes salpicos em quem a vê. Aceite-se, por isso, o convite para construir mundos estranhos – tão livres como a imaginação de cada um.
A Pedra e o Charco > Galeria Underdogs > R. Fernando Palha, Armazém 56, Lisboa > T. 21 868 0462 > até 18 jun, ter-sáb 14h-20h > grátis