
Os mapas reproduzidos do Atlas Universal de Fernão Vaz Dourado põem em confronto a ligação entre o poder e a cartografia
São exemplares de luxo da cartografia portuguesa as que encontramos na exposição que inaugura esta quinta, 7, no primeiro piso do Palácio da Bolsa, no Porto, e onde permanecerá até 1 de maio. Não se tratam dos documentos originais, mas são muito semelhantes aos muitos pergaminhos da época. As 30 reproduções fieis feitas pela editora espanhola Moleiro, de Barcelona, especializada em reproduções de códices e mapas, abrangem alguns dos maiores tesouros da nossa história, cujos originais se encontram em locais como o Arquivo Nacional da Torre do Tombo e o Museu da Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa), a Biblioteca Nacional de França (Paris), a Morgan Library & Museum (Nova Iorque) ou a Biblioteca Britânica (Londres).
Entre Livros de Horas de diferentes épocas, de medicina e de alquimia, Bíblias, o centro das atenções da exposição Tesouros Bibliográficos (séc. X – XVI): A Arte e o Génio ao Serviço do Poder vai para o Atlas Universal de Fernão Vaz Dourado, de 1571, cujo original se encontra no Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Além da reprodução fiel dos seus mapas, foi feito um livro de estudo da obra (edição limitada a 987 exemplares) a cargo de uma equipa de investigadores portugueses, entre os quais, João Carlos Garcia (Faculdade de Letras da Universidade do Porto), Silvestre Lacerda (Arquivo Nacional Torre do Tombo), Alexandra Curvelo (Museu Nacional do Azulejo) e Maria João Melo (Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade Nova de Lisboa), resultante de um moroso trabalho de quase uma década. São “mapas de luxo”, assegura o geógrafo João Carlos Garcia, que permitem verificar, por exemplo, “a ligação entre a cartografia e o poder”. O Atlas do cartógrafo Fernão Vaz Dourado possibilita quase “uma viagem de barco de circum-navegação”, desde o estreito de Magalhães atravessando a América do Sul, Golfo da Guiné, descendo a Europa Ocidental, África, contornando o Cabo da Boa Esperança, o Índico, o Mar da China e Japão, cruzando o Pacífico e de novo até à América do Sul. “O que aqui se faz no século XVI é a pintura do mundo”, descreve o geógrafo, salientando as iluminuras reconstituídas em cada mapa. “São janelas que vamos abrindo sobre o Planeta Terra”, compara.

O Pergaminho Vindel foi um dos últimos documentos reconstituídos pela editora Moleiro
The Morgan Library & Museum
Além dos mapas deste Atlas, a mostra inclui outros três reproduzidos e cujos originais não se encontram no nosso País: o Atlas Miller (1519), o Atlas Vallard (1547) e o Atlas Universal de Diogo Homem (1565). “O nosso trabalho é reproduzir estes tesouros para a sua conservação e estudo”, lembra o editor espanhol Manuel Moleiro, que acabou de reproduzir o manuscrito das Cantigas de Amigo do jogral galego Martim Codax, o Pergaminho Vindel, a única poesia musicada Galaico-Portuguesa, apresentada há um mês na Corunha, e que pode ser vista agora nesta exposição. A Biblia Moralizada de Nápoles (1340), o Apocalipse Gulbenkian (1265), o Livro da Felicidade (séc. XVI), o Beato de Girona (séc. X), o único pintado à mão por uma mulher, o Breviário de Isabel I, A Católica, ou o Tractatus de Herbis (1440) são alguns dos exemplares desta mostra que tem tanto de documental como de bela.