Há uma escolha que marcará para sempre o destino das personagens das peças do dramaturgo britânico Simon Stephens. Sem dramas ou tragédias à mistura, o público é confrontado com situações em que alguém chega, espera ou parte, confrontando-se com os seus medos e as suas imperfeições. Nada fica à superfície, mergulha-se naquilo que cada um tem de mais obscuro, sem julgamentos morais associados. “A escrita do autor é surpreendente, pela forma como propõe um dispositivo que nos leva a criar uma expetativa e, mais tarde, nos tira o tapete, porque nada é aquilo que parece”, sublinha o encenador Nuno M. Cardoso, o encenador.
A primeira peça, Águas Profundas (Wastwater no titulo original, referindo-se ao lago mais profundo de Inglaterra, situado a norte de Heathrow, onde se diz estarem sepultados vários corpos), é um tríptico que cruza habilmente as histórias de três pares. Irene (interpretada por Maria João Luís) é a mãe de acolhimento de Henrique (Pedro Almendra), um jovem que teve uma adolescência conturbada e está prestes a emigrar para o Canadá e a alcançar a redenção. Na segunda parte, relata-se o encontro fortuito entre Marco e Isabel (representados por Albano Jerónimo e Olinda Favas), num quarto de hotel, próximo do aeroporto, e a forma como ambos acabam por expor em absoluto a sua intimidade. Por último, o diálogo atroz entre João (António Durães) e Ana (Íris Cayatte), a partir de um caso de tráfico de crianças que, mais uma vez, joga com a imprevisibilidade.
Na segunda peça, Terminal de Aeroporto, a atriz Rita Brütt interpreta uma mulher que, um dia, após ter testemunhado o homicídio de um jovem de 16 anos num parque, decide virar à direita em vez de virar à esquerda e foge à sua rotina de mãe de família. Numa viagem de metro a caminho do aeroporto, recorda esse episódio traumatizante e interroga-se sobre este grau de terror e sobre a sua própria existência. No terminal, a dúvida ataca: Ficar ou partir?
As duas peças têm cenografias, figurinos e música distintos. A cenografia é dividida entre Pedro Tudela e Catarina Braga Araújo, os figurinos entre Helena Guerreiro e Nuno Baltazar e a música entre Marco Pereira, Miguel Pereira e Noiserv.
Teatro Nacional São João > Pç. da Batalha, Porto > T. 22 340 1910 > 24-27 mar, qui-sáb 21h, dom 16h > €7,50 a €16