Há largas décadas que a monarquia britânica tenta modernizar-se. Mas, se nem os mais recentes casamentos dos netos da rainha Isabel II – William (com Kate Middleton) e Harry (com Meghan Markle) – conseguiram passar incólumes às polémicas, difícil seria tal ter acontecido nos anos 1990, época em que se desenrola esta quinta temporada de The Crown.
Com uma monarca sempre atenta aos seus e “resistente a todas as tempestades”, uma sondagem indicava que o povo gostaria de vê-la abdicar da coroa para o filho Carlos, mas só porque idolatravam Diana e a queriam ter como rainha. A ideia de que o príncipe Carlos tinha uma atitude progressista, capaz de rejuvenescer a monarquia, não vingou – sabemos hoje como telespectadores.
Os divórcios de três dos filhos da rainha não deixavam de boa saúde o regime conservador, que se viu cercado de fotógrafos dos tabloides e a ser manchete de jornal, nem sempre pelos assuntos políticos – as traições amorosas foram verdadeiros escândalos. A comunicação social percebeu o poder que tinha, sobretudo se entrasse na esfera pessoal da realeza.
A mais sacrificada terá sido Diana, interpretada, nestes novos dez episódios, por Elizabeth Debicki. A compleição física da atriz australiana ajudou-a, e muito, a conseguir todas as expressões de vítima da “princesa do povo”, sobretudo o olhar de comiseração. Da caracterização ao tom de voz e aos trejeitos de mãos e braços, tudo é exímio.
Desde a primeira temporada, aliás, que o casting de The Crown quase se torna uma personagem. Desta vez, Imelda Staunton (Harry Potter, Vera Drake) sucede a Olivia Colman no papel de monarca, agora com 65 anos e há 40 no trono, com o ator britânico Jonathan Pryce no lugar de seu marido. Dominic West (The Affair), mais robusto do que o atual rei Carlos III, dá algum vigor físico ao homem que sonhava com a separação para ficar com Camilla Parker Bowles. Com mais ou menos ficção, The Crown mantém-se um bom documento histórico.
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