A recente polémica sobre uma das estreias mais aguardadas do ano centra-se na classificação etária atribuída a este filme nos Estados Unidos da América, interdito a menores de 18 anos. Em causa estão cenas explícitas de conteúdo sexual, nomeadamente de uma violação sofrida por Marilyn Monroe, numa audição, por um executivo de um estúdio cinematográfico.
Tanto Andrew Dominik, realizador neozelandês e autor do argumento (a partir do livro homónimo de Joyce Carol Oates, publicado em 2000 pela escritora agora com 84 anos), como Ana de Armas, atriz cubana no papel principal, não entendem os critérios utilizados, mas certo é que, mesmo antes de se estrear na Netflix, a longa-metragem foi visionada no Festival de Cinema de Veneza e algumas críticas internacionais fizeram-se ouvir quanto à forma como foram explorados o machismo, o sexismo e a misoginia sofridos pela atriz ao longo da vida, por ser considerada, redutoramente, apenas um sex symbol.
Para Ana de Armas, Blonde é a versão mais ousada e feminista da história de Marilyn, um biopic que, durante quase três horas, põe em contraste a mulher vítima de abusos e assédios com a mulher objeto de desejo, não se descartando ainda o conflito pessoal entre ser Norma Jeane (1926-1962) e Marilyn Monroe, a personagem criada para sustentar a sua vida artística, finada aos 36 anos. Tudo numa estética a “preto e branco”, a puxar para o estilo sombrio.
A voz sussurrante e o sotaque, as semelhanças físicas e a linguagem corporal, que Ana de Armas conseguiu incorporar – nove meses de preparação que classificou de “uma grande tortura, tão cansativa” –, são, seguramente, uma vantagem, mas a atriz também conferiu uma alma à personagem, cuja dor permanente passa para o espectador. O glamour de Marilyn talvez não tenha sido assim tão brilhante.
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