Dizer que cozinhar é um ato social significa que os temas da sociedade estão presentes na cozinha: o género, a idade, a diversidade cultural, a saúde mental. Estes foram, aliás, os temas abordados nas últimas edições do anteriormente denominado de Congresso dos Cozinheiros, agora Congresso de Cozinha.
“Enquanto organizadores, sempre estivemos atentos ao equilibrio de géneros e, desde há alguns anos, que temos no congresso metade homens e metade mulheres. No entanto, usávamos a designação “cozinheiros” como genérica. Resolvemos afinar essa designação”, esclarece Paula Amado das Edições do Gosto, que há 20 anos organiza este encontro.
Desta vez, e quando se celebram os 50 anos do 25 de Abril, falar-se-á de Comida e Liberdade, tendo como referência que a gastronomia não existe isolada. Diz Paulo Amado: “Todos os grandes movimentos, nas artes ou nas ciências, tiveram pessoas que se destacaram e pensaram o seu tempo. Na gastronomia, também temos pessoas que interpretaram e interpretam este tempo, e o tempo atual é de consciência do presente, de olhar para a saúde, para a cultura do País, para a tecnologia, preparar o futuro e dar sensações às pessoas. Há uma nova geração que tem esta consciência, que quer regressar às tascas, que quer mais informalidade no restaurante.”
Nos Nirvana Studios, em Oeiras, neste domingo e segunda-feira, dias 29 e 30, vão estar cerca de 70 oradores, entre chefes de cozinha, produtores e gastrónomos, vindos de diferentes países, como Brasil, EUA, França, Espanha, Angola, Cabo Verde, além de Portugal.
Cabo Verde é o país convidado deste ano (depois de São Tomé e Príncipe, em 2023). “É o nosso contributo e uma forma de dizermos que a gastronomia não pode ser só homens brancos e novos. É também um universo de mulheres e outras origens. Portugal tem uma diversidade cultural e humana gigante, ainda que isso não se veja no mundo dos chefes e na maneira como eles se apresentam. Queremos dar esse sinal, a partir do Congresso de Cozinha”, afirma Paulo Amado.
Durante dois dias, haverá demonstrações de cozinha, degustações, entrevistas, debates, apresentações, masterclasses e ainda concertos e instalações artísticas. Mais do que destacar alguns dos nomes presentes, Paulo Amado prefere falar do grande objetivo do congresso: “Reunir um bom conjunto de casos práticos que podem influenciar positivamente o mundo da comida”.
A lista de chefes que passarão pelos três palcos do Congresso (Palco INTER, Palco Produto e Palco Música/Nós As Pessoas) é longa e inclui, por exemplo, Vicky Sevilla, do Arrels (Valência), que abriu o seu primeiro restaurante aos 25 anos e é a mais jovem mulher em Espanha a ter recebido uma Estrela Michelin.
De Copenhaga, vem Christian F. Puglisi, reconhecido pelo trabalho ligado à sustentabilidade gastronómica que fez no Relae, que será entrevistado por João Ferraz. Pepe Solla, um dos grandes nomes da cozinha espanhola à frente do Casa Solla (uma Estrela Michelin), em Pontevedra, lançará um desafio: “Deixa para trás os teus medos e sê livre”.
Portugal estará representado por Rodrigo Castelo, do Ó Balcão (Santarém); Lara Espírito Santo e George Mcleod, do restaurante despedício zero Sem (Lisboa); Marcella Ghirelli (projeto Cella); Paulo Carvalho (O Zagaia, Sesimbra); Renato Cunha e Anabela Rodrigues (Ferrugem, Vila nova de Famalicão); João Sá (Sála, Lisboa); Inês Pando (Mafalda’s e Urraca, Matosinhos e Porto), Rita Magro (Blind, Porto), João Magalhães Correia (Bar Alimentar e Tricky’s, Lisboa), entre muitos outros.
Esta edição conta com uma novidade: masterclasses por parte do chefe David Jesus (Mapa, no L’And Vinyards, em Montemor-o-Novo) e da investigadora Catarina Prista.
Neste domingo, 29, será exibido o documentário Comida & Liberdade, de Frank Saalfeld, que reúne uma série de entrevistas realizadas a chefes a falar do seu trabalho que vai muito além de técnicas.
Durante os dois dias, os almoços, incluídos no bilhete, vão ser confecionados por chefes como David F. Jesus (Seiva), Elísio Bernardes (Sea Me – Peixaria Moderna), Francisca Dias, Nuno Mota (DamnPastry), Dhirendra Bam (Musa Marvila), Nuno Matos (Aethos Ericeira), João Simões (Casta 85), António Carvalho (Brasão) e Diogo Novais Pereira (Porinhos).
É já tradição que durante o Congresso se realize a final da prova O Melhor Pastel de Nata, criada em 2009 pelo gastrónomo Virgílio Gomes. Acontece na segunda-feira, dia 30, às 15h, e o vencedor sairá da lista dos 12 estabelecimentos finalistas.
Em 2025, o Congresso de Cozinha terá como tema Uma Só Saúde, para falar da atenção que temos de ter ao que se cultiva, à forma como se criam os animais, como se transformam os produtos e o impacto que tudo isto tem na nossa saúde.
Congresso de Cozinha > Nirvana Studios > €60 (1 dia), €20 (estudante, 1 dia), €100 (2 dias), €180 (pack 6, 1 dia) > programa completo aqui