BRAGA
1. Café Vianna
ANO DE ABERTURA 1858
Café €0,95
Situado no emblemático edifício da Arcada, virado para a Praça da República (como passou a ser denominada no séc. XX), é o café mais antigo de Braga, fundado em 1858. Chegou a ser salão de jogos, mas converteu-se num simples café, em 1927, com a regulação da exploração do jogo. Consta que, além da elite bracarense, por ali terão passado figuras como Camilo Castelo Branco e Eça de Queiroz. O Vianna acolheu conspirações políticas, como o golpe de Estado de 28 de maio de 1926 – que partiu de Braga, comandado pelo general Gomes da Costa, e levou ao fim da I República –, e também desportivas, tendo ali germinado o embrião do Sporting Clube de Braga. O espaço preserva muita da sua imagem original, como as paredes com painéis de mármore, espelhos e frisos dourados ou as cadeiras de couro e as mesas com tampo de mármore. Além da programação cultural própria, o café é muito solicitado para a realização de tertúlias e apresentação de livros. “Continuamos a ser um local onde se sente a sociedade bracarense, como escreveu Camilo, apesar de também acolhermos muitos turistas”, aponta Mário Pereira, o gerente. Pç. da República, Braga > T. 253 262 336 > dom-qui 10h-24h, sex-sáb 10h-2h
2. A Brasileira
ANO DE ABERTURA 1907
Café €1,15
Estrategicamente localizado, no cruzamento de duas artérias do centro histórico, a sua sala e a sua esplanada constituem uma plateia para o rodopio citadino. O piso térreo pouco se alterou, desde a fundação, em 1907, por Adolpho de Azevedo, empresário portuense e vice-cônsul do Brasil em Braga, numa espécie de franchising do café com o mesmo nome em Lisboa. Preserva o slogan inscrito em letras douradas numa parede: “O melhor café é o da Brasileira.” As mesas com tampo de vidro e suporte de metal (onde está inscrito o símbolo), as cadeiras de couro, as colunas com relevos dourados alusivos à produção de café ou, no exterior, os candeeiros de ferro com formato de guarda-chuva e a pintura na esquina, são dos elementos mais distintivos. No primeiro piso, onde chegou a existir um salão de jogos, funciona o restaurante e o bar, com decoração requintada. Na oferta, mantém o tradicional café de saco (moído em máquina própria e servido em chávena de vidro), que continua a ter muita saída entre a heterogénea e fiel clientela. Também vende café avulso. Lg. do Barão de S. Martinho, 17, Braga > T. 253 262 104 > dom-qui 8h-24h, sex-sáb 8h-2h
GUIMARÃES
3. Café Milenário
ANO DE ABERTURA 1953
Café €0,75
Nasceu quando Guimarães comemorava mil anos da sua fundação – daí o nome Milenário. Situado paredes-meias com a Torre da Alfândega, onde se lê a frase “Aqui nasceu Portugal”, conserva a mesma decoração dos anos 50 do século passado: as mesas com tampo de vidro, as cadeiras com ripas de madeira, o painel de cerâmica alusivo aos Descobrimentos, os espelhos, as portas voltadas para o Largo do Toural, principal praça da cidade. E tem outra particularidade: foi nesta esquina, onde existiam lojas e escritórios, que, em 1922, foi fundado o Vitória Sport Clube. A escolha de muitos clientes ainda recai no antigo café de saco feito duas vezes por dia, às 12h e às 18h30. Dulce Oliveira, 61 anos, que herdou do pai esta casa histórica, conta com orgulho que, entre os mais assíduos, “há um senhor reformado de Braga que todos os dias vem ao Milenário, depois do almoço”. Lg. do Toural, 47, Guimarães > T. 253 060 024 > seg-ter, qui–dom 7h30-24h
AMARANTE
4. Café São Gonçalo
ANO DE ABERTURA 1937
Café €1
Lugar que serviu de inspiração ao poeta e filósofo Teixeira de Pascoaes – conta-se que quando entrava com a boina na cabeça, os empregados já sabiam que não deveriam incomodar “o senhor escritor” –, reabriu remodelado em 2023, após ter sido adquirido pelos irmãos Luís Miguel e João Pedro Antunes, 43 e 39 anos respetivamente, nascidos em Amarante. Devolver o espaço à cidade, “sem lhe retirar a identidade”, foi o objetivo dos novos proprietários deste café, bar e restaurante, situado próximo da Ponte e do Mosteiro de São Gonçalo. No café (andar de baixo e esplanada) servem doçaria tradicional feita na casa, como lérias, foguetes, papos d’anjo e os São Gonçalo. Em cima, subindo a escadaria antiga, funciona o restaurante de cozinha portuguesa, com o polvo à lagareiro, a posta mirandesa ou a costela de vitela como os pratos de eleição. Pç. da República, 8 > T. 255 432 707 > seg-dom 9h-24h
PORTO
5. Café Aviz
ANO DE ABERTURA 1947
Café €0,90
O saudoso sr. Adriano já não engraxa os sapatos aos clientes, mas (quase) tudo o resto que acompanhou a história do antigo salão de chá Aviz, nascido após a II Guerra Mundial, se mantém. Os candelabros de cristal, as mesas e cadeiras da época, a estátua da Menina de Bronze, do escultor António Azevedo, a primeira caixa registadora, o painel de azulejo evocativo a D. João I, o Mestre de Aviz, os jornais do dia e, claro, as dez mesas de bilhar no piso inferior que ainda animam as noites de sexta e sábado. Neste café histórico, adquirido pela família de Mário Almeida quando deixou o Brasil, em 1998, conseguimos imaginar o ambiente de tertúlia dos estudantes de Medicina que ali se reuniam antes do 25 de Abril e cujos testemunhos se leem por lá. A francesinha continua a brilhar na carta, juntamente com as pataniscas, os panados com arroz de feijão ou o bacalhau à Braga. R. de Aviz, 27, Porto > T. 22 200 4575 > seg-qui 8h-24h, sex-sáb 8h-2h
6. Majestic
ANO DE ABERTURA 1922
Café €5
Às nove da manhã, mal as portas se abrem, já há filas de gente para tomar o pequeno-almoço (ou saborear a célebre rabanada, frita no momento) naquele que foi considerado o sexto café mais bonito do mundo. E não é para menos. A arquitetura Arte Nova, desenhada por João Queiroz, com a fachada de mármore e um frontão no topo ladeado pela escultura de duas crianças, os grandes espelhos de cristal flamengo, o estuque a representar rostos humanos, florões e figuras desnudas, o piano e o pátio interior ao fundo valem-lhe visitas e fotografias de todas as geografias do mundo. A sua preservação muito se deve à família Barrias que, na década de 90 do século passado, restaurou o café centenário do Porto (é também dona do Guarany), que durante anos foi local de tertúlia de escritores, intelectuais e artistas, e que recebeu a visita do piloto aviador Gago Coutinho em 1922, no dia da inauguração. A completar este ambiente, realce-se a farda branca dos empregados e os concertos ao piano, todos os dias das 17h às 19h. R. Santa Catarina, 112, Porto > T. 22 200 3887 > seg-sáb 9h-23h
COIMBRA
7. Café Santa Cruz
ANO DE ABERTURA 1923
Café €1
Celebrou um século no ano passado este café que é Monumento Nacional e onde, até 1834, funcionou a igreja da paróquia anexa ao Mosteiro de Santa Cruz. Ninguém fica indiferente à arquitetura de estilo manuelino do Café Santa Cruz, com o interior abobadado e o seu conjunto de vitrais, que acolheu tertúlias e foi poiso de intelectuais da cidade, como o político e professor de Medicina Bissaya Barreto. A acrescentar às mesas com tampo de mármore em forma de hexágono e às cadeiras de madeira (réplicas do mobiliário dos anos 20), o café histórico recuperou o crúzio, um doce antigo da casa que leva ovos e amêndoa tostada e tem sido premiado em vários concursos de doçaria conventual. Entre lançamentos de livros e debates, todos os dias acolhe fado de Coimbra (às 18h, entrada livre). Antes do verão, será lançado o livro Memórias do Café Santa Cruz, com fotografias e testemunhos que ajudam a contar a sua história. “Porque é preciso atrair mais gente, para que as pessoas que nos visitam não se limitem a tirar fotografias à porta e depois se vão embora”, sustenta Vítor Marques, um dos sócios e presidente da Associação dos Cafés com História de Portugal. Pç. 8 de Maio > T. 239 833 617 > seg-sáb 7h-24h, dom 8h-20h
TOMAR
8. Café Paraíso
ANO DE ABERTURA 1911
Café €0,80
Os espelhos importados de Veneza, as cadeiras da alemã Bauhaus e as colunas a imitar mármore destacam-se assim que se entra no Café Paraíso. Inaugurado em 1911, sofreu uma grande remodelação em 1946, assinada pelo arquiteto Francisco Granja. “Desde essa altura que se mantém tudo praticamente igual”, diz Alexandra Grego Vasconcelos, 55 anos, sobrinha-bisneta de Manuel Cândido da Mota, um dos fundadores. À entrada, a antiga tabacaria, agora transformada num pequeno museu, guarda peças dos tempos de tertúlias, como as revistas Século Ilustrado e Flama, a caixa registadora e a máquina de café originais. Ao longo das décadas, foi palco de peças de teatro e concertos, cenário de filmes publicitários e frequentado por individualidades, como Umberto Eco, durante a sua pesquisa para o livro O Pêndulo de Foucault, ou o compositor Fernando Lopes-Graça, nascido em Tomar. Nos pequenos-almoços e lanches demorados, destacam-se as tostas e as torradas, depois do jantar vira um bar animado, tanto no interior como na esplanada. Não é, por isso, de estranhar que seja “conhecido como o paraíso pela manhã, o purgatório durante a tarde e o inferno à noite”, ri-se a proprietária. R. Serpa Pinto, 127, Tomar > T. 249 312 997 > seg-sex 8h30-2h, sáb 9h30-2h
LISBOA
10. A Brasileira
ANO DE ABERTURA 1905
Café €2,50
Quando, em 1988, sentaram Fernando Pessoa no Chiado, talvez não imaginassem que o poeta seria fotografado dezenas de vezes por dia. Falamos, claro, da estátua de Lagoa Henriques que está na esplanada d’A Brasileira, fundada pelo torna-viagem Adriano Telles. Aquela que foi a loja, em 1905, onde se vendia o “genuíno café do Brazil, proveniente de Minas Geraes”, e que, três anos mais tarde, passou a ter também uma sala onde se bebia a exótica bebida, é um dos locais mais visitados pelos turistas que se passeiam por Lisboa. Percebe-se porquê. Por aqui ainda paira alguma da mística do lugar, palco de tertúlias intelectuais da geração de Orpheu. Quem tem raízes noutras terras e vier aqui beber um café (de lote exclusivo da casa) vai gostar de saber que o quiosque na entrada vende títulos da imprensa regional, de Trás-os-Montes ao Algarve. Uma ideia do grupo O Valor do Tempo (que adquiriu A Brasileira em 2020) para dizer que os quadros de, entre outros, Nikias Skapinakis, António Palolo ou Eduardo Nery não são só para inglês ver. R. Garrett, 120-122, Lisboa > T. 21 346 9541 > seg-dom 8h-24h
11. Café Nicola
ANO DE ABERTURA 1929
Café €2
É do tempo dos primeiros botequins, no século XVIII, abertos por italianos. O antigo Botequim do Nicola (de Nicola Breteiro) vendia cafés e refrescos aos lisboetas e viveu várias vidas – inclusive tornou-se a segunda casa do poeta Bocage – até ser promovido a Café Nicola, em 1929, com a sua fachada da autoria do arquiteto Norte Júnior a marcar o Rossio há 95 anos. Tudo o que vemos em volta, a partir de uma das mesas logo à entrada, a beber um café Nicola (pois), vem do ano de 1935: as pinturas a óleo de Fernando Santos que encimam o balcão, o estilo Art Déco e geométrico desenhado por Raul Tojal, os ferros forjados e muitos lustres. Cá dentro ou lá fora, na esplanada, sentaram-se escritores, artistas, intelectuais e políticos ao longo de décadas – a essa clientela se deve a designação de “Academia”, a certa altura. Hoje, são sobretudo os turistas que se sentam nas mesas vestidas de toalha branca, faca e garfo na mão, a mirar a grande praça. Pç. D. Pedro IV, 24, Lisboa > T. 21 346 0479 > seg-dom 8h-24h
ESTREMOZ
9. Café Águias D’Ouro
ANO DE ABERTURA 1909
Café €0,95
Num dos topos do Rossio Marquês de Pombal, o Café Águias D’Ouro sobressai entre o casario e os monumentos que o rodeiam. Não é difícil. O edifício de arquitetura Arte Nova está revestido a azulejo de tom castanho, tem varandas com guardas de ferro forjado, vitrais e janelas em vários estilos. Quando abriu, a 4 de abril de 1909, além de café, tinha buffet e sala de bilhar. Já nos anos 30 do século passado, sofreu uma intervenção pelo arquiteto Jorge Santos Costa, e em 1964, alterações pelo traço de José Manuel Pinto Rocha. “Até ao 25 de Abril, era frequentado pela população mais abastada e apenas os graduados do quartel cá entravam”, diz Gilberto Rebola, 66 anos, que antes de ficar com a exploração foi cliente do estabelecimento. O Águias D’Ouro passou uma fase difícil, esteve fechado durante três anos, reabrindo em 2004. Hoje, já sem convivas ilustres, como o filósofo e escritor António Telmo, as portas mantêm-se abertas para um café, um bife de vitela à Águias ou uma fotografia para mais tarde recordar. Rossio Marquês de Pombal, 27, Estremoz > T. 268 324201 > seg, qua-dom 8h30-24h
LOULÉ
12. Café Calcinha
ANO DE ABERTURA 1929
Café €1,20
Chamou-se Central, Carioca e Louletano, mas foi por Calcinha (alcunha dos filhos do primeiro proprietário) que se registou para sempre o nome deste café da cidade algarvia de Loulé. Até ao 25 de Abril, vivia-se a dois ritmos: durante o dia, o ambiente era pacato, separado entre abastados e remediados; à noite, eram todos boémios e uma das atividades até horas tardias era o jogo a dinheiro e o bilhar. No risco de encerrar, a câmara municipal adquiriu o edifício de estilo Arte Nova em 2016, funcionando hoje por exploração privada com a obrigação de manter a memória da cidade – o folhado de Loulé, doce regional, é disso exemplo. No interior respira-se um ambiente Belle Époque, tendo sido recuperados os materiais e as cores originais, caso das madeiras importadas do Brasil. Nas paredes, veem-se fotografias de gerações de louletanos. António Aleixo, natural de Vila Real de Santo António, costumava aqui declamar os seus poemas, nos intervalos da sua vida errante como guarda de polícia, pedreiro ou cauteleiro. É ele, aliás, na estátua, em que está de perna traçada, esculpida em bronze por Lagoa Henriques, fazendo companhia a quem fica na esplanada. Pç. da República, 67, Loulé > ter-dom 8h-23h
Os Cafés de Lisboa: Paraísos perdidos
Marrare, Chiado, Martinho, Suisso, Royal, Chave d’Ouro, Aviz, Palladium, Colonial, Montanha, Portugal, Abadia, Montecarlo… Nomes que remetem para uma cidade de fantasmas, desaparecida. Ao contrário do que foi acontecendo no Porto, em Lisboa praticamente todos os grandes cafés, inaugurados desde o século XIX e ao longo do século XX, desapareceram ou mudaram radicalmente. Eram um elemento fundamental da vida quotidiana na cidade, conhecidos pelas suas tertúlias e ponto de encontro de grupos bem definidos. Arquitetonicamente, houve verdadeiras pérolas nos cafés da capital – e olhando para fotografias antigas (por exemplo, do belíssimo Martinho, ao lado do Teatro Nacional D. Maria II, ou do Chave Douro, no Rossio, onde Humberto Delgado proferiu a célebre frase “obviamente demito-o”) custa a acreditar que tudo tenha, simplesmente, desaparecido. A melhor maneira de revisitar esses velhos e gloriosos cafés é folheando este livro de Marina Tavares Dias, Os Cafés de Lisboa, publicado pela Quimera em 1999. Esgotado, também ele é, hoje, uma espécie de fantasma de outra era que só pode ser encontrado em alfarrabistas e no mercado de livros usados. P.D.A.