A fotografia com que abrimos este artigo foi tirada depois de subirmos a longa escadaria que parte da Rua José Domingos Barreiros, a uns passos da maioria das galerias de arte de Marvila. Essa é uma das maneiras de chegar perto da Torre do Marialva, sem fôlego, é certo, mas com o bónus de uma bela panorâmica sobre o casario e o Tejo.
Já tínhamos visto a torrinha ao longe, quando seguíamos pela Rua do Açúcar na direção do Poço do Bispo e olhámos à esquerda à passagem pela Rua dos Amigos de Lisboa. Por causa do desnível do terreno, ela destaca-se, misteriosa, ao fundo dessa rua sem saída.
A outra maneira de se chegar mais perto dela é numa cota acima, pelo Pátio Marialva, com entrada pela Rua de Marvila. Foi isso mesmo que descobrimos há quatro anos, movidos pela curiosidade, e acabando a escrever numa croniqueta:
“Conhecida como o mirante da Quinta do Marquês de Marialva, embora esteja no extremo norte da chamada Quinta do Brito (propriedade onde funcionou em tempos a Fábrica Nacional de Sabões), a pequena torre oferecia vistas em 360 graus a quem subisse a sua escada em caracol. Tinha frescos nas paredes e vidros coloridos nas bandeiras das portas. Mesmo agora, entaipada e coberta de graffiti, tem o seu quê de romântico. Dá prazer vê-la estoica, junto à linha de caminho de ferro, entre o casario descaracterizado.”
“Reza a lenda que foi do cimo desta torre que o rei D. Pedro V assistiu à passagem do comboio a vapor que fez a viagem inaugural, entre a estação provisória do Cais dos Soldados (atual Santa Apolónia) e Vala do Carregado, mas as notícias desse dia 28 de outubro de 1856 dão conta de que Sua Alteza Real seguia a bordo. Uma pena porque já estávamos a imaginá-lo feito Rapunzel.”
Esta e outras histórias conta-nos agora ao ouvido o historiador Pedro Sequeira, no audioguia que gravou sobre o Pátio Marialva. Além desse cantinho da freguesia, a partir deste domingo, 1, e ao longo de todo o mês de maio, há mais QRcodes colocados em outros seis locais que ajudam a conhecer livremente o bairro que este ano é palco da Lisbonweek:
Prata Riverside Village (empreendimento projetado por Renzo Piano, junto ao rio); Praça David Leandro da Silva (Poço do Bispo, onde está o emblemático edifício da Abel Pereira da Fonseca); Igreja Paroquial de Marvila (um assombro de talha dourada, dedicada a Santo Agostinho); Palácio Marquês de Abrantes (hoje sede de uma das mais antigas coletividade de Lisboa, a Sociedade Musical 3 d’Agosto de 1885); galerias de arte (na Rua Capitão Leitão) e Palácio da Mitra (antiga residência de veraneio dos arcebispos).
Nascida em 2012, como uma “plataforma de comunicação dos bairros de Lisboa”, a Lisbonweek vai este ano ajudar a descobrir a Marvila antiga e contemporânea, através de visitas guiadas, exposições, conversas sobre arquitetura e trabalho, ateliês e muita música.
A 7.ª edição começa no dia 7 (próximo sábado), com um open day – “Todos a Marvila!” –, seguindo-se uma programação com especial incidência nos fins de semana. A festa de encerramento é na Fábrica de Braço de Prata, a partir das 20h do dia 28, com o tema Do Brasil ao Continente Africano.