1. Estação Sul e Sueste e Doca da Marinha
A zona entre o Cais das Colunas e a Doca da Marinha foi devolvida aos lisboetas, em maio passado. O troço de frente ribeirinha deu novo fôlego àquela zona da cidade, por onde se voltou a passear, correr e aproveitar as vistas largas sobre o Tejo. Ainda com os bares e discotecas fechados, foram muitos os que escolheram os quiosques Banana Café, na Doca Marinha, para se divertirem nas noites deste final de verão. Ao trio de quiosques com esplanada – todos com uma instalação de luz e cor de Julião Sarmento (1948-2021), que o artista deixou à cidade) –, juntou-se a renovada Estação Sul e Sueste – edifício modernista (1929), do arquiteto Cottinelli Telmo – com a sua cafetaria com esplanada virada ao rio, o Centro Tejo, onde se desafia a descobrir o outro lado do rio, e a dezena de operadores turísticos que disponibilizam passeios em várias embarcações. Já só falta o restaurante, também da autoria do arquiteto João Carrilho da Graça, para a nova promenade de Lisboa ficar ainda mais irresistível. Av. Infante D. Henrique, Lisboa > Centro Tejo e Estação: seg-dom 10h-19h > grátis
2. Casa de Pedra
Este foi mais um ano sem os grandes festivais de música, daqueles que trazem músicos e bandas internacionais a Portugal, para nosso contentamento. Adiado o Rock in Rio para 2022, Roberta Medina não ficou parada (em 2020, já tinha lançado uma marca de brigadeiros, a Brigadeiro Gourmet LX) e, no Parque da Bela Vista, onde decorre o festival, transformou umas ruínas na Casa de Pedra, no início de maio, com o objetivo de dinamizar o parque, aliando gastronomia, arte e cultura. Além de um restaurante-galeria com duas esplanadas (durante o verão, tiveram umas cestas de piquenique para levar para o relvado), conta com um palco por onde foram passando artistas locais, com curadoria do coletivo Chelas é o Sítio (encabeçado por Sam The Kid), DJ set e até roda de samba, com o grupo O Samba é Só Um a aquecer os finais de tarde de sábado. Parque da Bela Vista > Av. Dr. Arlindo Vicente, Lisboa > T. 91 080 0326 > qua-sáb 12h30-22h30, dom 12h30-18h
3. SEM
O SEM abriu em meados da primavera, pelas mãos da luso-brasileira Lara Espírito Santo e do neozelandês George McLeod, com uma fórmula que eleva a chamada cozinha sustentável a um novo patamar na cidade. Aliás, preferem não usar o termo sustentabilidade, por sentirem que se enquadra na ideia de “manutenção” e escolhem falar em apoio à agricultura regenerativa, para um aumento de biodiversidade, uma filosofia que partilham com todos os fornecedores com quem trabalham. Criam menus semanais na lógica do mínimo desperdício, com base em ingredientes explorados até ao máximo das suas potencialidades e que raramente se esgotam numa só receita — a parede de frascos com fermentados, pastas e molhos na sala principal do restaurante prova isso mesmo. Não têm caixote do lixo, mas sim um sistema de compostagem, rejeitam o plástico e até usam uma máquina para transformar garrafas de vidro em areia. O palco onde atuam fica em Alfama, tem uma sala onde servem um menu de degustação e um wine bar para provar alguns petiscos, sempre feitos nesta lógica de criar a partir dos limites impostos pelos produtos que chegam ao restaurante. Ambos trabalharam no Silo, em Londres, e são os primeiros a querer trocar dois dedos de conversa sobre a sua linha de trabalho. Imperdível. R. das Escolas Gerais, 120, Lisboa > T. 93 950 1211 > ter-sáb 19h-24h
4. Mercado dos Produtores
Este mercado nasceu nos finais de 2020, em época de apertadas restrições pandémicas, mas nunca nos falhou. Mesmo quando a Covid, durante os primeiros meses de 2021, teimava em mandar-nos para casa e ficar longe dos amigos, o Largo de São Paulo transformou-se num sagrado ponto de encontro, aos sábados de manhã. Como se isso não fosse suficiente para esta iniciativa constar no Se7e do ano, ainda se juntam os “grandes produtos de pequenos produtores” que se levavam no saco para amenizar a tristeza dos confinamentos. Esta feira, com marca de qualidade da mercearia Comida Independente, teve como princípio fundador a ajuda aos agricultores para que, numa altura complicada, conseguissem escoar a produção e se aproximassem dos consumidores. Mais de um ano depois, continua a reunir as melhores e mais variadas iguarias: queijos da I’m Cheese, pão do Millstone Sourdough, massa artesanal da Pasta Fresca ou ostras (abertas na hora) da Neptunpearl. Se a ideia for regressar a casa já de barriga aconchegada, a barraquinha que está no topo do largo, de costas para a igreja, abriga sempre um cozinheiro que prepara petiscos de acordo com os produtos da época. Agora, se a situação sanitária continuar a apertar, teremos sempre a certeza deste mercado. Lg. de São Paulo > sáb 10h-14h
5. Depozito
Abriu nos últimos dias de novembro, para mostrar que o artesanato tradicional e o contemporâneo podem conviver lado a lado. Mais do que uma loja, a Depozito é uma casa para essa forma de fazer, à mão, peças de olaria, marcenaria, cortiça, cestaria e têxtil, de norte a sul do País. Junta A Vida Portuguesa (celebra 15 anos em 2022), de Catarina Portas, e a Portugal Manual, de Felipa Belo, com uma amostra já bem simpática de uma nova geração de artesãos e de autodidatas. O futuro do que é genuinamente nosso também se aponta naquele armazém enorme, seja através de workshops ou de conversas, seja na forma de uma biblioteca especializada, reunida por Catarina Portas, que em breve estará disponível para consulta. E é igualmente por isso que aplaudimos este encontro feliz. R. Nova do Desterro, 21, Lisboa > qua-dom 10h-19h
6. Lisboa Romana
Sabia que debaixo do Rossio escondem-se vestígios arqueológicos do que foi, há quase dois mil anos, o circo de Olisipo? Com o lançamento, em janeiro, do site Lisboa Romana e toda uma agenda de iniciativas paralelas – lançamento de livros, pequenos documentários e entrevistas – que têm vindo a decorrer, ganhou-se uma nova forma de explorar a cidade seguindo os passos da ocupação romana, dos séculos VII a.C. e VII d.C, na Área Metropolitana de Lisboa, a Felicitas Iulia Olisipo. Através do site e de uma aplicação, acede-se a uma série de reconstituições 3D, fotografias, textos e percursos pré-definidos ou personalizados que permitem descobrir o que muitas vezes se encontra escondido debaixo dos pés, ou explorar in situ cerca de 400 sítios arqueológicos em Lisboa, mas também na Amadora ou no Seixal, num total de 19 municípios. Agregado ao Centro de Arqueologia de Lisboa, este projeto tem vindo a ser desenvolvido desde 2017 e recebeu, em outubro, o prémio de Melhor Projeto de Informação Turística e uma menção honrosa pelo projeto de investigação, atribuídos pela Associação Portuguesa de Museologia. Uma espécie de aventura na cidade dos tempos romanos que terá um Centro Interpretativo, sobre o Criptopórtico Romano de Lisboa. lisboaromana.pt
7. Lulu, um pub bonito
Podemos perdoar a vaidade de quem batizou este bar de bonito porque, assim de repente, não nos ocorre adjetivo que melhor se adeque ao Lulu, aberto desde maio, quando sair à noite ainda era uma miragem e as portas se fechavam às dez e meia. Hoje, até à meia-noite pode-se entrar sem teste, pois há comida boa para desculpar essa ousadia. Depois, em provando que se está negativo, pode-se dançar até de madrugada, ao som do DJ de serviço. No entretanto, aprecie-se a decoração em tons de cor-de-rosa forte, ou não fosse este bar dedicado às mulheres – não há aqui nem um laivo de sexismo. A inspiração do nome e da filosofia que o rodeia é a atriz Louise Brooks (Lulu) e os loucos anos 20 do século passado (continuamos à espera que se repitam e já vamos a caminho de 2022). Os cocktails de autor também não fogem ao registo do bar: levam nomes de mulheres sonantes, como Jane Fonda, Cyndi Lauper, Lena d’Água e a própria Lulu. Ao lado, há o pequeno Bar Mais Triste da Cidade, dos mesmos donos, que, por oposição, faz ode à melancolia, com noites de piano e muito whisky. Cç. Ribeiro Santos, 31A > T. 91 681 8955 > ter-qui 18h-2h, sex-sáb 19h-3h