Numa destas tardes passei pela Cister e a montra lateral estava como sempre carregada de marmelada, mas sobretudo em caixas. Da marmelada enformada, saída de velhas formas de cobre, só havia duas e nenhuma era aquele castelinho com quatro canhões, quatro, que nos faz sorrir antes de lhe enfiar a faca.
Tant pis! A receita é sempre a mesma e, entre outubro e novembro, fazem-se 400 a 600 quilos dela que rendem para todo o ano (a €9/kg).
Diz-se que virá do tempo em que a pastelaria e confeitaria do número 107 da Rua da Escola Politécnica respondia por Serafina, por causa da dona que era filha de um Serafim e se chamava Maria da Madre Deus. Também se diz que Eça de Queirós era cliente desta casa, onde gostava de tomar o pequeno-almoço, mas não ficou para a História se comeria marmelada, embora muitas das suas personagens comam ladrilhos “ao montão” ou esmagados em copos de vinho “para adocicar a goela”.
Chega a outubro e, graças à mestria da minha irmã Bárbara, há vários anos que a casa da nossa mãe parece a da nossa avó, tantas são as tigelas de marmelada a terem o mesmo efeito das madalenas de Proust. Na próxima investida, algures agora em novembro, a ver se também lhe cravo marmelo cozido, bom para comer de sobremesa e regressar ao tempo perdido.