No tempo em que os animais falavam e o edifício do Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian ainda não tinha ocupado uma parte do jardim, eu e as minhas quatro irmãs escalávamos pedras enormes de olho na torre do castelo vizinho. Recordo-me de achar estranho não podermos lá ir como íamos ao Palácio dos Condes Castro de Guimarães, em Cascais, que fora mandado construir pelo bisavô de um amigo da família e onde no verão havia um ateliê de Artes Plásticas.
Um castelo no meio da cidade cheirava a excentricidade por todos os lados. E quando um dia a nossa mãe contou que ele tinha começado por ser as cocheiras e cavalariças de um palácio ainda achámos mais extraordinário.
O dito palácio fica hoje do outro lado da Rua Marquês da Fronteira e está nas mãos do Exército desde 1947. Foi reconstruído no final do século XIX por José Maria Eugénio de Almeida, 1º conde de Vilalva, que depois de ouvir um aristocrata escocês gozar com a inabilidade dos portugueses para tratarem de cavalos quis dar-lhes uns aposentos bons para humanos. No final dos anos 50, seria um bisneto seu a pedir ao arquiteto Leonardo Castro Freire para adaptar as cocheiras a residência. A viúva, Maria Teresa Eugénio de Almeida, viveria ali até morrer, há duas semanas, com 95 anos.