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Aberta em 1840 na Rua Nova do Almada, a livraria Ferin funcionou também como tipografia e oficina de encadernação da Casa Real, por despacho do Rei D. Pedro V
António Bernardo
“Vim de propósito à Baixa para lhe dizer que ficou muito bem na fotografia.” O elogio vem de um cliente habitual e deixa Celina Basílio lisonjeada. A centenária livraria Ferin, no Chiado, onde Celina trabalha vai para 32 anos, tem sido notícia nos últimos dias. E por boas razões, o que já vem sendo raro por estas bandas da Baixa de Lisboa. A loja, fundada em 1840 pela família que lhe dá nome, atravessava graves problemas financeiros, mas foi salva por José Pinho, dono da Ler Devagar, entre outras livrarias em Lisboa, e diretor do Folio – Festival Literário Internacional de Óbidos, onde tem mais um punhado delas.
Com entrada pelo número 72 da Rua Nova do Almada, a Ferin continuará a ser uma livraria temática. “Heráldica, genealogia, arte, História, biografia, catálogos de exposições, literatura”, vai desfiando Celina Basílio, ao percorrer balcões e estantes de madeira que forram as paredes, carregados de patine. “E muitos livros em francês porque essa é a segunda língua da clientela fiel, que prefere ler o original à tradução”, esclarece. É preciso descer as escadas, ao fundo da sala, para descobrir um mundo novo: uma enorme cave, também com arcos de pedra, que guarda prensas, um cavalete de Gutenberg com gavetas cheias de letras-tipo, uma máquina de escrever e um cofre do tempo em que a Ferin também era tipografia e a livraria dirigida por uma mulher: Maria Teresa. Ali, nos últimos anos, fizeram-se dezenas de lançamentos, tertúlias e encontros à volta dos livros, que não foram no entanto suficientes.
No ano passado, a editora Principia, proprietária da livraria, contactou José Pinho a propor-lhe a venda. “Foi só depois de vir aqui abaixo que decidi avançar com o negócio”, conta o próprio. “É a primeira livraria que compro. Todas as outras foram construídas de raiz. Por isso, o que está em cima é para manter, acrescentando-lhe aquilo que nunca teve. ”Autores portugueses traduzidos e livros “que se vendem, como António Lobo Antunes, José Saramago, Gonçalo M. Tavares, Valter Hugo Mãe”, adianta. Na parte de baixo – que é na verdade um rés-do-chão para quem entra pela Rua do Crucifixo –, será outra livraria, onde já estão parte dos livros de fundo de catálogo e restos de coleção, a preços baixos; uma secção de livros infantis e outra com livros raros, novos ou antigos (de medicina ou de náutica, mas também de poesia). “É uma livraria como a Ler Devagar, com títulos que não se encontram, mas que estão disponíveis nas editoras”.
Já mais arrumada está a zona do auditório, para receber uma programação que se quer semanal – sessões de leitura, conversas, um ciclo de conferências em parceria com a editora Relógio D’Água, concertos, teatro e cinema. E logo ali ao lado fica o bar, com mesas do vizinho restaurante Palmeira, encerrado em dezembro passado, e as antigas cadeiras do Pavilhão Carlos Lopes, onde se pode ir para estar a trabalhar (tem wifi grátis) ou beber um café.
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João Paulo Dias Pinheiro, gerente da Ferin há 47 anos, com o retrato do seu trisavô, Augusto Ferin
António Bernardo
João Paulo Dias Pinheiro, gerente da Ferin há 47 anos, anda numa azáfama. “Uma casa com esta idade acumulou muita coisa e não se pode deitar tudo fora de um dia para o outro”, diz enquanto ajeita duas fotografias emolduradas. “É o meu bisavô, Edwin Ferin, e o meu trisavô, Augusto Ferin”, revela o último membro da família a trabalhar na livraria. “A fundadora foi Maria Teresa, tinha 11 irmãos, tal como eu. Cinco gerações depois, repete-se a história.” Os nomes estão todos no pequeno livrinho A Família Ferin em Portugal, que vai percorrendo até chegar ao seu. E logo desaparece, desculpando-se “que há muito para fazer e o tempo é muito pouco”.
A nova Ferin tem data de inauguração marcada para 23 de abril, Dia Mundial do Livro. José Pinho sabe que é preciso dar a volta ao negócio, por isso a livraria vai também passar a abrir todos os dias, em horário alargado, e o portão da Rua do Crucifixo a funcionar em pleno. Para aproveitar o movimento do Chiado e voltar a pôr a bonita Ferin de novo no mapa.
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Na cave da Ferin, onde antes funcionava o armazém e os escritórios do pessoal, nasceu uma outra livraria com títulos de fundo de catálogo, restos de coleção a preços baixos, algumas novidades e uma secção de livros infantis
António Bernardo
Livraria Ferin > R. Nova do Almada, 72 / R. do Crucifixo, 61, Lisboa > T. 21 342 4422 > seg-sex 10h-20h, sáb 10h-19h (novo horário a partir de abril)