Começa a parecer algo do domínio do infinito o já mítico arquivo de Prince, que, cumpridos cinco anos sobre a sua morte (a 21 de abril de 2016), continua a surpreender os fãs com um conjunto de edições inéditas, gerido com pinças pelos responsáveis por tão valioso legado. Foi assim com Piano and a Microphone 1983, pelo modo como revelou a intimidade criativa do artista, ou Originals, a coletânea de canções escritas por Prince para outros artistas, neste caso interpretadas pelo próprio. Desta vez, porém, trata-se de um álbum completo, gravado entre março e abril de 2010, totalmente pronto, que Prince resolveu enfiar no arquivo.

Apesar de exemplarmente gravado e produzido, Welcome 2 America não ficará para a História em termos musicais, o que não significa que não seja um álbum premonitório, como quase tudo o que Prince fez. Até porque, mais do que apontar caminhos para o futuro, a sonoridade deste power trio de luxo – composto pelo próprio Prince, o baixista Tal Wilkenfeld e o baterista Chris Coleman (mais tarde, juntaram-se também o teclista Morris Hayes e as cantoras Shelby J., Liv Warfield e Elisa Fiorillo, do coro da New Power Generation) – é muito mais direcionada para o passado mais orelhudo da música negra de final dos anos 60 e início dos 70.
A temática não podia ser mais atual, como se percebe logo no tema de abertura, homónimo do álbum, no qual frases como “a verdade é a nova minoria”, “vai para a escola aprender a ser uma celebridade” ou “terra dos livres e casa dos escravos” dão o mote para as 11 faixas seguintes, que parecem antecipar, a uma década de distância, a atualidade, entre referências ao racismo, às notícias falsas e a uma realidade cada vez mais manipulada, artificial e distante das pessoas. É bom lembrar que, à época, vivia-se a esperança do primeiro mandato de Obama e assuntos como estes eram, no mínimo, contra a corrente. Se não fosse tão inverosímil, seria até tentador pensar que Welcome 2 America foi exatamente planeado assim, para sair apenas agora, quando finalmente fazia todo o sentido.