Num mundo cada vez mais polarizado, será mesmo a alegria o derradeiro ato de resistência? O segundo álbum dos Idles, o aclamado Joy as an Act of Resistance, de 2018, catapultou-os para a primeira divisão da música popular ressuscitando uma militância que parecia quase perdida para o rock. Joe Talbot, o carismático vocalista do Idles discorda dessa ideia. Para o músico, “a empatia é que é o derradeiro ato político, a única arma possível para combater o racismo ou o fascismo”, cuja existência apenas se deve, diz, “à falta de amor-próprio”.
Esse é o mote de Ultramono, cujo compasso é marcado por uma espécie de mantra ouvido ao longo do disco: “I am I” (eu sou eu), primeiro passo de um longo caminho em direção à unidade e a um sentido de amor cada vez mais lato. “I want to be loved, everybody does”, ouve-se em A Hymn, penúltima faixa e um dos temas mais reflexivos do disco, funcionando quase como um momento para respirar fundo, depois do turbilhão de rock visceral que até aí se ouviu. Mas os Idles não se fecham nos códigos do rock, levam-no mais além, a territórios do hip hop e da soul, por exemplo, géneros “muitos mais subversivos do que o punk”, estilo ao qual, a contragosto, continuam a ser colados de forma simplista e redutora. Tudo serve para embrulhar uma mensagem contra todos os “ismos” que dividem em vez de unir. “Sim, somos uma banda política, mas não partidária, a música tem sempre mais que ver com o que as pessoas sentem. E tentamos ser sempre o mais genuínos possível para os nossos fãs perceberem que fazem parte de um movimento muito maior.”
Serão os Idles, então, uma utopia tornada real na forma de música? A ideia é recusada por Joe Talbot: “Espero bem que não, porque a nossa música pretende ser uma janela para a realidade, não uma mera forma de escapismo.”