João Baptista Coelho chamou-nos a atenção, em 2017, com The Art of Slowing Down, a estreia nos “longa duração” depois do EP The Free Food Tape, dois anos antes. O nome Slow J afirmou-se com esse disco, encheu palcos um pouco por todo o País e gerou um culto à sua volta. Agora, com 27 anos, e tão pouco tempo passado, há um mundo de diferença.
Em primeiro lugar, já não há o efeito surpresa mas sim a expectativa de ver se tudo o que havia sido prometido na estreia tinha sustentabilidade ou se não passara de um excelente fogacho. Em segundo lugar, Slow J foi pai, o que lhe alterou naturalmente as rotinas e o estado de espírito. A resposta, dada com este You Are Forgiven, lançado de surpresa, é um novo triunfo.
Slow J habita genericamente o universo do hip-hop, mas é cada vez mais inegável que possui uma voz própria. Não é exatamente um rapper, não é bem um cantor, e o seu som oscila entre a dureza urbana e uma doçura melódica de influências africanas. Basta ouvir os dois primeiros temas deste novíssimo disco: Também Sonhar, com preciosa colaboração de Sara Tavares, e FAM, com Papillon, um dos grandes nomes da nova geração do hip-hop português. Está lá tudo. A lusofonia, as letras profundas, a inquietação, a dúvida, a busca de significado perante os grandes e pequenos dilemas da vida. Tudo gravado com um som magnífico e rico, contrastando muitas vezes com a austeridade instrumental rude de muito hip-hop luso, num disco feito de pormenores e surpresas que se vão revelando após sucessivas audições.
Slow J, afinal, pouco tem de lento: dois grandes discos em três anos e uma corrida rumo ao reconhecimento como um dos grandes talentos da nova vaga musical urbana portuguesa.