Há algo de megalómano neste disco de estreia de Pedro Branco. Como se iniciasse o seu percurso com um álbum de tributo, cheio de colaborações e de pequenos luxos. Mas a excentricidade justifica-se. É que, apesar de desconhecido do público, Pedro não é propriamente um novato. Aos 51 anos, este professor e escritor de canções tem já uma longa carreira, mas confinada a um discreto círculo. Só agora, desta forma relativamente exuberante, se mostra ao mundo, com os ingredientes de um big bang, como se todo este material estivesse comprimido e só agora encontrasse uma oportunidade para se expandir.
Talvez o facto de ser filho de José Mário Branco o tenha inibido de gravar um disco antes. Carrega uma herança pesada. E ouvindo Contigo fica claro que, também musicalmente, ela se revela: não só no timbre de voz mas também no estilo dos arranjos e mesmo na ligação explícita às artes de palco e à palavra. Aliás, o disco está montado como se de um espetáculo se tratasse. Os momentos musicais são intercalados com a leitura de histórias, da autoria de Manuela de Freitas, José Luís Outono, Júlio Machado Vaz, Rui Chafes, José Fanha e Alexandre Honrado. E, à medida que o disco avança, vai entrando em estúdio uma série de convidados que lhe dão cor, como João Afonso, Jacqueline Fernandez, Ana Laíns, Yara Gutkin, Beatriz Portugal, Carlos Alberto Moniz e mesmo o Coro de Santo Amaro de Oeiras.
Musicalmente, é de grande riqueza. Pedro Branco não só se revela um escritor de canções, numa linha clássica, mas também um arranjador notável, com uma visão ampla sobre a sua própria música. A grande questão que se levanta é: com uma estreia assim tão cheia, o que poderá ser o segundo disco?