Primeiro estranha-se. Depois… Bom, para alguns essa estranheza será insuperável, para outros, passageira. Neste disco somos testemunhas do encontro entre uma das grandes vozes do fado contemporâneo e canções bem familiares (quando não lendárias) do repertório da bossa nova com a marca de Tom Jobim. A primeira estranheza vem do embate com palavras desprovidas do colorido sotaque do lado de lá do Atlântico com que estamos habituados a ouvi-las. E isso está ligado à estranheza maior: não é fácil casar a identidade do fado (grave e arrebatador, tal como Carminho nos habituou) com a infinita coolness da bossa nova, talvez o mais subtil dos géneros musicais.
É quando Carminho mais se afasta do registo do fado que o objetivo deste disco é, no seu todo, mais bem cumprido. E esse “todo” está cheio de protagonistas que lhe garantem uma inquestionável qualidade musical: as canções de Tom Jobim (com palavras de Vinicius de Moraes, Chico Buarque…), a Banda Nova em todos os temas (com Paulo Jobim, filho de Tom, também diretor musical e autor dos arranjos, Daniel Jobim, neto, Jacques Morelenbaum e Paulo Braga) e, ainda, a participação especial de Marisa Monte, Chico Buarque (que, além de cantar em dueto Falando de Amor, deu uma mãozinha na escolha dos temas), Maria Bethânia e a atriz Fernanda Montenegro.
Carminho Canta Tom Jobim enquadra-se bem numa nova fase de encontro entre a música popular brasileira e portuguesa. Durante anos, a viagem fez-se quase sempre no mesmo sentido (de lá para cá), mas recentemente há bons exemplos (com Carminho e António Zambujo à cabeça) de artistas portugueses que conseguiram ser bem sucedidos não só a chegar ao público brasileiro como a criar cumplicidades e parcerias com a comunidade artística do Brasil.
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