Para Lá do Relvado, de Raquel Vaz Pinto
Como explicar a alunos de 18 anos a ascensão e a crescente importância dos recursos energéticos, nos países desenvolvidos, no último século? Como captar-lhes a atenção para este tema à partida “secante”? Numa aula, algures em 2014, a investigadora do Instituto de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa, Raquel Vaz Pinto, encontrou a fórmula certa. Ou, talvez mais apropriadamente, a tática perfeita: “Sabem porque é que o patrocinador das camisolas do Atlético de Madrid é o Azerbaijão? E por que razão o Barcelona é patrocinado pelo Qatar? E o Real pela Emirates? Como explicam o nome do Estádio do Chelsea (Emirates) ou a propriedade qatari do PSG?”. Onde é que a professora queria chegar, já nós todos percebemos, pelo introito deste texto. Para os “miúdos”, porém, não foi imediato. Por isso, a audiência estava assegurada. Partindo desse ponto, surgiu a ideia para este livrinho, que se lê de um fôlego. Aqui desfilam nomes de jogadores que o mais pintado adepto já tinha esquecido – mas o ponto da obra é o que o desporto-rei nos revela sobre Relações Internacionais, Economia global e liderança. Antes do Euro de França, não falta, também, a razão de ser e a importância dos jogadores imigrantes, em todas as grandes seleções europeias… De que forma Mussolini ou Franco apoiaram clubes da capital para afirmar o poder central das respetivas ditaduras? E como é hoje o futebol usado como suporte de poder financeiro e afirmação política, no contexto internacional?
Numa linguagem divertida, que se segue ao hilariante prefácio de António Araújo, a autora de Para Lá do Relvado não evita temas de difícil explicação como o dos esquemas de corrupção na FIFA, em que o leitor só tem de somar dois mais dois para, finalmente, perceber o que se passou. Não espere, porém, encontrar uma única linha sobre clubes e competições nacionais. É que há “um conflito de interesses entre a objetividade e o Benfica”. E Raquel Vaz Pinto não consegue perceber afirmações como “eu sou do Benfica, mas sei ver as coisas… (Tinta da China, 164 págs., €13,90).
Vítor Damas. A Baliza de Prata, de José do Carmo Francisco
Um dos principais ingredientes da verdadeira paixão pelo futebol é… a memória. Não é raro ouvir adeptos a citarem de cor equipas inteiras com décadas de existência. Este livro destina-se a quem quer recordar (ou descobrir) um dos grandes guarda-redes portugueses: o sportinguista Vítor Damas (1947-2003). A Baliza de Prata (Gato do Bosque, 223 págs., €9,90) tem muitas vozes dentro, recorrendo a diversas citações, de várias épocas, para compor um retrato definitivo de Damas.
