Não sabemos como seria o escritor dinamarquês Hans Christian Andersen na infância, antes de se tornar célebre pelos seus contos para crianças e jovens – mas acreditamos que bem podia ser assim como este menino Andersen, já “grande inventor”, como o imagina Gonçalo M. Tavares. O Dicionário do Menino Andersen, com ilustrações de Madalena Matoso, editado agora pela Planeta Tangerina, dá-nos novos significados para 53 palavras, criados por esse menino “nada satisfeito com as definições de palavras que encontrava no dicionário”. É com linhas quase sempre direitas e muitas vezes esquemáticas que Madalena Matoso as ilustra, sempre a preto, azul, vermelho e branco, e dando ainda mais ação e graça às maravilhosas ideias do texto.
De A a Z, que é como quem diz de Acrobata a Zoom, é difícil escolher apenas uma página para dar como exemplo. Folheie-se o livro, sem mais: “Diminuir o barulho é aumentar o silêncio. Diminuir a luz é aumentar a escuridão. Portanto, diminuir uma coisa é aumentar o seu oposto.” “Elevador é uma escada que está avariada porque não tem degraus. Como está avariada, é preciso carregar num botão para funcionar.” “Ombro é o sítio onde os amigos deixam que ponhas os pés para subires ao cimo de uma árvore.” “Mala é uma gaveta que se pode transportar. Duas malas são duas gavetas. Quem leva duas malas, uma em cada mão, já é praticamente um armário.” “Museu é um sítio onde, certamente, em algum canto, está alguém a dormir, pois está tudo em silêncio e não te deixam fazer barulho.”
Um dicionário para ler com atenção (e admirar cada um dos mais de 50 desenhos que traz dentro), que nos faz a nós adultos voltar a ser meninos como Andersen foi – e que aos meninos fará, no mínimo, viajar pelas novas, inesperadas e “evidentes” definições destas (e outras) palavras. Na letra P, de Poesia, ainda descobrimos todos uma surpresa: “Escuta este verso de Rafael Alberti: ‘E a mim preocupam-me muito o silêncio, a astronomia e a velocidade de um cavalo parado.’ Qual a velocidade de um cavalo parado? É a velocidade dos teus olhos, da atenção que dás às coisas imóveis. A poesia é isso (ou mais ou menos isso).” E, sim, na dupla página seguinte, Madalena Matoso desenha-nos, de forma simples e também poética, a velocidade desse cavalo parado.