Durante duas décadas, o restaurante indiano Calcutá, no Bairro Alto, era um dos lugares de eleição de Afonso de Melo. Mais do que a sua sala de refeições, era ali que escrevia e recebia amigos em dias de jogos. Com o passar dos anos, o restaurante foi degradando-se e perdendo qualidade, mas nem isso o afastou do número 17, da Rua do Norte, porta da qual tinha até a chave.
Quando foi sondado pelo proprietário para ficar com o restaurante, o jornalista e escritor desafiou o amigo Ricardo Regal, sócio do restaurante Boi-Cavalo, para ajudar nesta missão. No dia seguinte à tomada de decisão, ligaram ao chefe Hugo Brito, à frente do Boi-Cavalo, para criar a ementa do novo Laranja Tigre – o nome é inspirado no livro Uma Sombra Laranja-Tigre, de Afonso de Melo, cuja história se desenrola em Goa –, desta vez com raízes goesas, uma escolha justificada pelo gosto pessoal de Afonso, que viaja com alguma frequência para este destino.
Seguiu-se um trabalho de investigação nesta cozinha oriental, uma das mais picantes da gastronomia indiana (aqui em doses mais reduzidas). “Nenhum de nós tem raízes goesas, mas tivemos a sorte de o alfarrabista Bernardo Trindade emprestar-nos diversos livros sobre esta cozinha e cultura”, conta Ricardo Regal.
Após as obras de renovação, que tornaram esta casa mais luminosa e moderna (graças à nova paleta de cores azul, laranja e branco), e da carta que parte do receituário goês, com toque de criatividade, abriram as portas discretamente em julho. “Não temos legitimidade para ser um restaurante verdadeiramente goês. Esta é uma cozinha de família, muito caseira, e não temos uma família a quem ligar ou roubar receitas”, explica Hugo Brito.
Já sentados à mesa, a prova começa nas chamuças de vegetais (€2,50) e de garoupa (€3), de massa estaladiça e ligeiramente picantes. Já nos pratos principais, ficámos rendidos ao xec xec de caranguejo de casca mole (€18), de prova obrigatória. “Encontrei muitas variações deste prato tradicional de Goa, então fiz a minha própria versão”, conta.
O pica-pau de novilho açoriano à Cafreal (€16) e o caril de couve-flor e mostarda preta (€12) são igualmente bons pratos para partilhar à mesa e que podem (e devem!) ser acompanhados por arroz indiano e paratha (uma espécie de pão indiano, feito na frigideira). Com uma fatia de bebinca, feita com nove camadas por uma especialista nesta sobremesa, despedimo-nos da viagem gastronómica a esta Goa contemporânea e original.
Dias de semana De terça a sexta-feira, há dois menus de almoço, um de €14 e outro de €17 (os preços variam de acordo com o prato principal escolhido), que incluem entrada, prato, sobremesa e bebida.
Laranja Tigre > R. do Norte, 17, Lisboa > T. 21 346 1292 > ter-dom 12h-24h