Tudo começou com um coup de coeur. Quentin Bouyaghi veio para Portugal trabalhar e, ao fim de um ano, resistiu em seguir para o próximo destino (Nova Iorque), a mando da empresa fabricante de aviões que lhe pagava o ordenado. Foi, não sem antes combinar com Ulysse – amigo com quem tinha partilhado a infância em Poitou-Charentes (perto da região de Cognac) e que acabara de chegar a Portugal – que pensariam num negócio que lhes permitisse viver em Lisboa. Com Quentin em Nova Iorque e Ulysse Jasinsky por cá, foram imaginando o projeto comum. Por muito que se quisessem instalar na capital portuguesa, havia coisas de que sentiam falta.
E assim nasceu a ideia de irem buscar aquilo que lhes matava as saudades de casa: o queijo de cabra feito artesanalmente, com leite cru, que comiam em criança, o foie gras Maison Mitteault que se abre por alturas do Natal, o doce de figo e a geleia de marmelo Gargouil, a mostarda, o azeite aromatizado, o vinagre de Neuville, os sumos de pera e maçã.
“No supermercado há queijos franceses, mas não os da nossa região”, explica Quentin, orgulhoso do brie de meaux curado sobre palha, “à antiga” (€35/kg), o roquefort vieux berger (feito na quinta onde crescem as vacas), o Mont d’Or Manet ou o Comté 30 meses (€52/kg). Também tem époisses, “um dos queijos mais mal cheirosos do mundo” (€13 cada) e uma boa seleção de cabra e de queijo para raclette.
Para acompanhar, champanhe, vinhos licorosos (alguns deles portugueses) e cervejas artesanais vindas da Bélgica, Holanda, Canadá ou de produção nacional, menos conhecidas do grande público, porque se é costume acompanhá- -lo com vinho, “há uma associação a fazer ente o queijo e a cerveja”. Vinhos também os há, biológicos e biodinâmicos, que “estão na moda em França, fazem menos mal à saúde”. “É uma forma de não entrarmos em concorrência com os vinhos portugueses”, diz.
Vale a pena entrar (a loja não cheira a queijo), ver, provar e deixar-se tentar. Se precisar, Quentin ou Ulysse estarão lá para, num português muito afrancesado, ajudar a levar uma boa seleção para casa. Se preferir ficar, peça para lhe organizarem uma soirée dégustation ou, então, espere (pacientemente) pela esplanada que há de chegar com a primavera.
Do conto de La Fontaine, a Fromagerie só não tem o corvo. Mas Ulysse e Quentin, os donos, andam à procura de um exemplar que faça companhia à raposa. Será uma homenagem a Lisboa.
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