No centro das mesas do antigo Astoria, com vista para a Avenida dos Aliados, no Porto, estão dispostos potes com o fruto e a fava de cacau. Não há que enganar. É chocolate que iremos provar, oriundo de plantações de todo o mundo – através de uma parceria com a Du Monde, que se iniciou há meio ano na venda de chocolates exclusivos e quase todos artesanais. Neste jantar temático – quem recusar uma refeição onde o chocolate seja o protagonista que levante a mão – o cacau é harmonizado com vinhos e criações do chefe do Astoria, Pedro Sequeira.
À mesa, começa por chegar um aperitivo requintado q.b.: bolo Gianduja da La Molina (Itália), cortado em finas lascas, que acompanha com um Alvarinho Quinta da Pedra 2010. Vendido em formato arredondado, como se fosse um queijinho, deve ser degustado às fatias saboreando cada detalhe desta iguaria feita com uma mistura de chocolate branco, negro e creme de avelã. Com este jantar temático, a Du Monde quer “surpreender a nível sensorial”, explica Hugo Resende, o gestor de 24 anos que se juntou à nutricionista António Germanova, para a abertura deste negócio. Para entrada, chega um ceviche de camarão e vieira com puré de aipo e citrinos ao qual são adicionadas (à nossa frente) raspas de chocolate Menakao 63% com chili. “A única marca africana, de Madagáscar, com origens mais frutadas”, diz-nos Hugo Resende. O toque de chili do chocolate trava a acidez do ceviche e isso é muito bem conseguido (e, na nossa opinião, quanto mais raspas, tanto melhor). O prato é acompanhado por um Alvarinho Quinta da Pedra 2010.
Da cozinha de Pedro Sequeira sai um cantarilho suave dos Açores com puré de abóbora, pickle de espargos brancos regado com molho de chocolate negro 60% flor de laranjeira da Tunísia, feito pelo mestre chocolateiro Enric Rovira (Barcelona) e que integra a sua coleção Noir de Fleur d’Oranger. É servido com um Bairrada Principal Branco 2010. Se, antes, o chocolate foi raspado na mesa, agora surge derretido num molho. “A ideia é apresentá-lo de diferentes formas”, conta Hugo Resende. O chefe Pedro Sequeira conta que experimentaram cerca de 20 tabletes diferentes até definirem os mais adequados para harmonizar a comida. O próximo chocolate vem da Lituânia, embora o cacau venha da América do Sul. É o Mulaté negro com canela, baunilha e pimenta cayenne que será servido com o carrê de borrego com rosti de batata e toucinho fumado com funcho baby grelhado.
A refeição já vai longa, mas o final é uma explosão de chocolate. É servido um bolo V6 (o chefe costuma ter na carta um V4), com seis camadas e seis chocolates diferentes: Manufaktura Czekolady (Polónia), Duke od Delhi (Inglaterra), Bjorn (Suécia), Mulaté (Lituânia) e dois Amma (Brasil). “Foi um desafio. O mais difícil foi equilibrar o bolo com seis sabores”, comenta Pedro Sequeira, confessando-nos que, na criação de toda esta ementa, o mais complexo foi chegar à receita do molho de chocolate que acompanha o cantarilho: “É um peixe delicado e exigente. Fiz imensas tentativas, andei vários dias a tentar fazer o molho, acho que até sonhei com ele…”. Nós é que, depois deste jantar, andamos a sonhar em dar a volta ao mundo. Com um pedaço de chocolate.
Restaurante Astoria > Intercontinental Palácio das Cardosas > Pça. da Liberdade, 25, Porto > T. 22 003 5600 > 9 jul, sáb 19h30 > €45/pessoa