A casa já está limpa, deitaram-se fora as coisas velhas e compraram-se roupas novas para estrear logo à noite de preferência vermelhas, cor da sorte. À porta, do lado de fora, penduram-se tiras vermelhas com dizeres afortunados, enquanto as crianças recebem envelopes, também vermelhos, com dinheiro. Na cozinha, as mulheres da casa, de todas as gerações, preparam uma ementa de ano novo para o jantar que antecede a vigília (shou sui), ficando em convívio, na madrugada de 30 para 31 de janeiro.
Nas 22 províncias chinesas, apesar da variedade gastronómica, seja nos ingredientes usados seja na forma de os confecionar, o peixe é transversal à refeição da véspera de ano novo, tal como o bolo de ano novo (nian gao) que pode ser doce ou salgado, e o almoço vegetariano, no primeiro dia do ano.
Com a ajuda de Chen Hui e do marido Yun Zhi Liu, ambos de Fujian, a norte da província de Cantão, donos do restaurante YumCha Garden, em Oeiras, pusemos a mesa, redonda e para partilhar.
Baseado no ciclo lunar, o calendário chinês dá as boas-vindas ao cavalo (ma). Símbolo de liberdade, é ele quem “leva” as pessoas para onde querem, a fim de alcançarem o sucesso pessoal e profissional.
Embora não haja regras que ditem a forma de cozinhar o peixe, símbolo de prosperidade, é costume servi-lo inteiro. Os raviolis de carne e vegetais (ao vapor, fritos ou cozidos) têm um formato semelhante a um pedaço de prata, sendo que, nas mesas de famílias abastadas, podem ser substituídos por abalone (uma espécie de lapa). O nian gao (tradução literal de “ano alto”, significa em ascensão) salgado mistura-se com couve chinesa, pimento verde, bebinca de nabo ou de inhame, carne de porco fumada, alho francês e ovo.
Se o nian gao for doce, pode comer-se também ao pequeno-almoço, aquecido ao vapor ou frito. Outra estrela da ementa é o pato assado, servido inteiro como símbolo de união da família. O que mais demora é a sua preparação: toda a pele do pato é pincelada com uma mistura de vinagre, maltose de cevada e água, depois, o bicho fica pendurado, a secar, mais de oito horas, e, por último, vai ao forno, durante meia hora. É o toque do vinagre que faz com que a pele fique estaladiça.
Outra proteína usada é o frango cozido em caldo com gengibre, cebolinho e sal. A alegria chega com o prato de camarão, símbolo de riso. Tudo pode ser acompanhado por arroz branco ou chau chau (salteado), com ovo, cebolinho, camarão e carne assada chinesa. Para beber, há chá ou vinhos branco, tinto ou de arroz, uma espécie de aguardente de elevado grau alcoólico que pode ser quente ou fria. A quinzena de celebrações do novo ano termina com o Festival das Lanternas e fogo de artifício que, na China, coincide com o Dia dos Namorados.
GUIA: Onde comer com pauzinhos
CLANDESTINOS
Depois do encerramento, pelas autoridades, do restaurante caseiro, na Rua do Benformoso, em Lisboa, na vizinha Mouraria, para os lados do Largo da Severa, uma outra casa particular continua a servir a verdadeira comida chinesa.
DAO R. da Palma, 245, Lisboa T. 21 888 5375
ESTORIL MANDARIM Casino Estoril, Av. Dr. Stanley Ho, Estoril T. 21 466 7270
HONG KONG GRANDE PALÁCIO R. Pascoal de Melo, 8 A, Lisboa T. 21 812 3349 R. Bernardo Lima, 48 B, Lisboa T. 21 314 0726
RESTAURANTE CANTONÊS DIM SUM R. António Nunes Sequeira, 14 A, Agualva-Cacém T. 21 913 5848, 96 801 2330
SHANGHAI FAMILY R. das Pretas, 18-20, Lisboa T. 21 347 0601
YUMCHA GARDEN Pct.ª do Maputo, 6 A, Oeiras T. 21 441 5481