Há cerca de dois meses, uma análise desenvolvida por investigadores de diferentes instituições de renome como a Universidade de Sydney e a Universidade Sorbonne, em Paris, França, tinha concluído que os alimentos ultraprocessados (UPF, na sigla inglesa) estão diretamente ligados a 32 efeitos negativos para a saúde. Dentro desta lista estava incluído, por exemplo, o maior risco de desenvolver alguns tipos de cancro, mas também de desenvolver diabetes tipo 2.
Agora, um longo estudo realizado ao longo de cerca de 30 anos por uma equipa de investigadores da Universidade de Harvard, em Cambridge, Massachusetts, EUA, e que analisou mais de 100 mil pessoas, concluiu que o consumo de alimentos ultraprocessados está associado a um risco maior de morte precoce, sendo que os diferentes alimentos têm impactos negativos variáveis.
Os voluntários, seguidos entre 1986 e 2018, eram profissionais de saúde nos EUA e não tinham qualquer histórico de cancro, doenças cardiovasculares ou diabetes. Ao longo desse tempo, de dois em dois anos, foram recolhidas informações importantes acerca da sua saúde e comportamentos relacionados com estilo de vida. Além disso, de quatro em quatro anos, os voluntários preencheram questionários detalhados acerca da sua alimentação.
A equipa dividiu os participantes em dois grupos: o que consumia menos alimentos ultraprocessados – três porções por dia, em média – e o que consumia mais UPF (sete porções por dia, em média).
Analisando os voluntários, a equipa identificou uma “correlação moderada” entre os alimentos ultraprocessados e o risco de morte, dando conta de que o primeiro grupo tinha um risco 4% maior de morte por qualquer causa, incluindo um risco 9% maior de morte por doenças neurodegenerativas.
“A associação positiva é principalmente impulsionada por alguns subgrupos, incluindo carne processada e bebidas adoçadas com açúcar ou artificialmente adoçadas”, diz, citado pela CNN, Mingyang Song, professor de epidemiologia clínica e nutrição na Escola de Saúde Pública TH Chan, de Harvard.
Dentro dos alimentos ultraprocessados, os riscos são maiores em alguns. De acordo com o investigador, as carnes processadas e os alimentos e bebidas açucarados não representam os mesmos riscos que os cereais integrais ultraprocessados.
Por exemplo, Song diz que os cereais e os pães integrais, que “também são considerados alimentos ultraprocessados”, “contêm vários nutrientes benéficos, como fibras, vitaminas e minerais”. “Por outro lado, acho que as pessoas devem tentar evitar ou limitar o consumo de certos alimentos ultraprocessados, como carne processada, bebidas adoçadas com açúcar e também bebidas potencialmente adoçadas artificialmente”, explica o especialista.
É necessário, agora, analisar de forma mais completa os componentes (aditivos ou emulsionantes, por exemplo) dos alimentos ultraprocessados que podem estar a ter impacto na saúde, para se poder agir em relação a essa análise.
“Se as pessoas mantiverem uma dieta geralmente saudável, não acho que precisem de ficar alarmadas”, afirma ainda Song.
Embora o estudo, publicado esta semana na revista The BMJ, tenha permitido tirar conclusões importantes, principalmente por ter sido realizado ao longo de quase três décadas, é importante notar que foi uma investigação observacional, ou seja, foi possível observar uma correlação, mas a equipa não é capaz de afirmar que os alimentos provocaram as mortes.
“O padrão alimentar geral continua a ser o fator predominante que determina os resultados em termos de saúde”, defende Song.