Há vários anos que se fala na “batalha pela perfeição física“, com o grande desenvolvimento da medicina estética nos últimos tempos, lado a lado com o crescimento das redes sociais, que têm levado a uma busca incessante pela beleza ideal.
O recurso à medicina estética tem deixado de ser exceção para começar a ser a norma. Já em 2013, um estudo realizado pela Academia Americana de Plástica Facial e Cirurgia Reconstrutiva, mostrou que as plataformas sociais e aplicações móveis para divulgar imagens fizeram disparar o número de cirurgias faciais.
Outros estudos têm mostrado que cada vez mais pessoas, e cada vez mais cedo, recorrem a algum tipo de tratamento estético que permite não apenas apagar as marcas do tempo, mas também alterar ou evidenciar alguma caraterística física – por exemplo, fazer preenchimento labial para ficar com os lábios mais grossos (um dos tratamentos mais comuns), ou aumentar os seios e nádegas.
Neste sentido, um novo estudo, desenvolvido por investigadores da Universidade Ludwig-Maximilian, em Munique, na Alemanha, e que queria entender se as pessoas acham mais atraentes os lábios mais finos ou grossos, concluiu que a moderação é o fator mais apreciado, no geral.
Os investigadores pediram a 59 homens e mulheres na faixa dos 30 anos (a maioria sem formação médica e de origem branca) que avaliassem cinco pares de lábios, de tamanhos variados, colocados no rosto da mesma mulher, que aparentava ter cerca de 20 anos. As cinco imagens foram manipuladas por computador.
Os voluntários avaliaram as imagens de um a cinco com base no quão atraentes achavam que a mulher ficava com cada par de lábios, comparando todas elas, e, depois de analisar as respostas dos participantes, a equipa calculou a sua média para revelar quais lábios eram considerados mais atraentes.
Os resultados mostraram que a imagem vencedora foi aquela em que a mulher aparecia com os lábios mais “naturais”, ou seja, nem muito grossos nem muito finos, que recebeu uma classificação média de 4,56 em 5. Isto significa que a moderação foi o aspeto mais apreciado pelos participantes.
A ocupar o segundo lugar ficou a imagem em que a mulher aparecia com os lábios 15% maiores do que o seu tamanho natural, com uma pontuação de 4,48; e em terceiro lugar ficou a imagem em que os lábios da mulher estavam 15% menores relativamente ao seu tamanho natural, com uma pontuação de 2,52.
Surpreendentemente, a imagem em que a jovem aparecia com os lábios maiores, isto é, um terço maiores que o normal, ficou em último lugar, obtendo uma pontuação de apenas 1,56.
Uma questão de proporção
“É tudo uma questão de proporção. Se colocarmos lábios grandes num rosto mais magro pode não ficar bonito”, diz, em entrevista ao Daily Mail, Sebastian Cotofana, professor de anatomia na Mayo Clinic College of Medicine and Science, em Rochester, Minnesota, EUA.
Os investigadores afirmam, contudo, que acompanhando o olhar dos participantes, percebeu-se que eles observavam durante mais tempo os lábios maiores. Mas Cotofana explica que esse resultado pode sugerir, pelo contrário, que os voluntários consideravam os lábios mais grossos menos atraentes, referindo que as pessoas têm um “ideal interior” de beleza já definido e, quando algo não corresponde a esse ideal, é necessário reunir mais “informações visuais”, observando-as durante mais tempo.
Apesar dos resultados, este estudo, publicado na revista Plastic and Reconstructive Surgery, tem várias limitações, admite a equipa: por exemplo, todos os lábios mostrados aos participantes tinham uma proporção de 1:1,6, o que significa que o lábio inferior é cerca de 60% maior que o lábio superior.
Esta proporção é considerada a mais atraente entre as mulheres caucasianas, explica ainda a equipa, ou seja, o facto de a mulher mostrada nas imagens do estudo ter aquela que é considerada uma proporção perfeita no que diz respeito aos lábios, pode ter distorcido os resultados, diz a equipa.
“Conteúdo menos atraente capta a atenção mais rapidamente, mas leva mais tempo a ser processado”, referem os investigadores, no estudo, acrescentando que “receber atenção substancial na vida real após uma intervenção estética pode não refletir um resultado ‘bonito'”.
Nos EUA, de acordo com um relatório de 2022 da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos (American Society of Plastic Surgeons), quase 1,4 milhões de mulheres americanas recorreram a tratamentos de preenchimento labial no ano passado.
E os portugueses, o que procuram neste momento em relação aos procedimentos nos lábios?
À VISÃO, Carolina Botelho, especialista em medicina estética, explica que “em Portugal, o preenchimento labial é um dos procedimentos estéticos mais populares e procurados”, mas com foco na “máxima naturalidade”. “Nota-se algum preconceito relativo a uma imagem de lábios exagerados e desproporcionais ou artificiais, sendo que existe também muita ansiedade” por parte de quem procura este procedimento, devido ao receio de que o efeito não seja natural.
Na visão da especialista, mais do que o tamanho, é importante ter uma “visão global de como os lábios se encaixam na face, é um equilíbrio entre todas as partes”, afirma. “Se manipularmos uma imagem e reduzirmos os lábios de alguém com uns lábios médios ou carnudos provavelmente não vamos achar a pessoa especialmente mais bonita após a alteração, nem tampouco aumentá-los trará mais atratividade, já que é no equilíbrio que está a virtude”, acrescenta.
No que diz respeito ao preenchimento labial, a especialista afirma que “cada caso é um caso” e que, por isso, “deve ser feita uma análise geral das proporções faciais em conjunto com as proporções labiais, para que se consiga oferecer o melhor resultado possível” . “Não vamos olhar só para os lábios individualmente, mas para outras características do rosto como o tipo de estrutura facial mais alongada ou redonda, bochechas, queixo, sulcos nasolabiais, visão de frente e perfil”, refere, acrescentando ainda a importância de “entender as expectativas do paciente e perceber se a realidade pode corresponder a elas”.
Um resultado bonito e não exagerado pode, de acordo com a especialista, ser atingido por qualquer pessoa , de qualquer tipo de rosto, mesmo mais fino, e com quaisquer tipo de lábios, “desde que uma análise prévia seja realizada com eficácia”.
“Um aumento gradual ao longo do tempo faz com que o lábio não sofra grande dilatação, permitindo assim manter a naturalidade. E a escolha do ácido e a análise que referi são para mim características fundamentais para conseguir um resultado atrativo sem perder a naturalidade desejada”, remata Carolina Botelho.