Um novo estudo, realizado por investigadores da Universidade de Washington, nos EUA, descobriu que indivíduos na faixa dos 40 e 50 anos com maior quantidade de gordura abdominal visceral têm maior quantidades da proteína beta-amilóide numa parte do cérebro que se sabe ser “um dos primeiros locais onde aparece o Alzheimer”.
As placas amiloides são depósitos de fragmentos das proteínas conhecidas por beta-amiloides, tóxicas para os neurónios e ligadas a doenças como o Alzheimer.
De acordo com Cyrus Raji, professor de radiologia na Escola de Medicina da Universidade de Washington, nos EUA, e autor principal do estudo, existe “uma diferença entre os sexos, com os homens a apresentarem uma ligação maior entre a gordura abdominal e esta proteína relativamente às mulheres”. Isto pode ter a ver com a maior quantidade de gordura visceral que os homens têm, no geral, afirma o especialista.
Os investigadores detetaram também uma relação entre a gordura abdominal profunda e a atrofia cerebral, ou o desgaste da massa cinzenta, no hipocampo, uma parte do centro de memória do cérebro, um resultado muito relevante já que “a atrofia cerebral é outro biomarcador da doença de Alzheimer”, afirma o investigador.
O processo
“Já sabemos há algum tempo que, à medida que o tamanho da barriga aumenta, os centros de memória do cérebro ficam menores”, disse, em declarações à CCN, o investigador em Alzheimer Richard Isaacson, que não esteve envolvido no estudo.
No novo estudo, a equipa analisou inicialmente imagens originais do cérebro e barriga de 32 adultos, com idades entre os 40 e os 60 anos. Os investigadores realizaram nestes participantes exames PET, com foco nas placas amilóides e emaranhados de tau que se acumulam na doença de Alzheimer.
Com o decorrer da investigação, incluiu mais 20 participantes e, à medida que mais pessoas iam sendo adicionadas ao estudo, informações relevantes sobre a inflamação causada pela gordura abdominal nas partes do cérebro onde o Alzheimer começa passaram a ser o foco.
Para chegar aos resultados, os investigadores avaliaram a associação entre os volumes cerebrais, através da realização de ressonâncias magnéticas, e a captação de amilóide e tau, com o índice de massa corporal (IMC), a obesidade, a resistência à insulina e o tecido adiposo abdominal (gordura). Além disso, os voluntários passaram por várias medições de glicose e insulina e realizaram testes de tolerância à glicose.
Já os volumes de gordura subcutânea e gordura visceral foram medidos através de ressonâncias magnéticas abdominais e as ressonâncias magnéticas cerebrais mediram a espessura cortical das regiões cerebrais impactadas pelo Alzheimer.
As conclusões
Com a realização dos exames, a equipa concluiu que uma maior proporção de gordura visceral e subcutânea estava ligada a uma maior captação do traçador PET amilóide no córtex precuneus, sendo essa relação maior nos homens. Esta região é, normalmente, impactada precocemente pela patologia amilóide no Alzheimer.
Os autores do estudo também descobriram que “as secreções inflamatórias da gordura visceral, em oposição aos efeitos potencialmente protetores da gordura subcutânea, podem levar à inflamação no cérebro, um dos principais mecanismos que contribuem para a doença de Alzheimer”.
Segundo Raji, as mudanças cerebrais encontradas foram modestas mas significativas. “Estamos mesmo a perceber o quão cedo podemos detetar alguns dos tipos de manifestações mais subtis de anormalidades que podem estar relacionadas com o Alzheimer”, diz ainda o investigador, acrescentando que “ao identificar esta ligação patológica com a gordura visceral, existem formas de podermos potencialmente intervir nesta população”,
Publicado como um estudo piloto na revista Aging and Disease, os seus resultados vão ser apresentados na próxima semana, na reunião anual da Sociedade Radiológica da América do Norte (RSNA).