Um novo estudo, realizado por um grupo de investigação que incluiu a Agência Internacional de Investigação em Cancro, da Organização Mundial de Saúde (OMS), não encontrou ligação entre determinados alimentos ultraprocessados, como os pães e cereais, e um maior risco de se desenvolver uma combinação de doenças tais como um tipo de cancro e diabetes.
Desta lista, também não faz parte uma gama muito ampla de outros produtos, incluindo refeições pré-preparadas, bolos salgados, doces e sobremesas, diz a equipa.
Nesta investigação, a equipa percebeu, por outro lado, que pessoas que ingerem com regularidade bebidas açucaradas, por exemplo, alimentos ultraprocessados de origem animal ou molhos e condimentos, têm um risco maior de desenvolverem doenças deste género.
“O que é particularmente significativo neste grande estudo é que ingerir mais alimentos ultraprocessados, em particular produtos de origem animal e bebidas açucaradas, está associado a um risco maior de desenvolver cancro, juntamente com outra doença, como acidente vascular cerebral (AVC) ou diabetes”, afirma, citada pelo The Independent, Helen Croker, diretora assistente do Fundo Mundial para a Pesquisa do Cancro, que financiou o estudo.
O objetivo da investigação era analisar a ligação entre os alimentos ultraprocessados e o risco de as pessoas sofrerem pelo menos duas doenças crónicas ao mesmo tempo, a partir de uma grande lista de doenças que inclui cancro, doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2, por exemplo.
Os investigadores utilizaram o NOVA, um sistema de classificação de alimentos segundo o seu grau de industrialização criado em 2009 pelo cientista brasileiro Carlos Monteiro e adotado por várias organizações, incluindo as Nações Unidas. Este sistema inclui mais de 11 mil itens alimentares.
Alimentos ultraprocessados: pães e cereais demonstraram redução do risco de doenças
Vários estudos têm encontrado relação entre estes alimentos e um maior risco de desenvolver condições de saúde graves. Os alimentos ultraprocessados são preparados industriais comestíveis criados a partir de substâncias extraídas de alimentos ou derivados de componentes alimentares com pouco ou nenhum alimento intacto.
São apetecíveis e dão muito sabor, mas também são considerados os menos saudáveis, já que a eles são adicionados, por exemplo, corantes, adoçantes e conservantes que prolongam a sua vida útil.
Este novo estudo incluiu mais de 250 mil pessoas de sete países europeus, sendo que 60% eram mulheres. Durante 12 meses, os investigadores avaliaram a dieta alimentar dos participantes através de questionários. Além disso, a equipa acompanhou os participantes durante uma média de 11,2 anos.
Os resultados mostraram que a ingestão média de alimentos ultraprocessados para homens e mulheres foi de 413 gramas por dia e 326 gramas por dia, respetivamente. Em termos de percentagens, estes números equivalem a 34% das calorias diárias de um homem provenientes de alimentos ultraprocessados; relativamente às mulheres, a percentagem foi de 32%.
A equipa também concluiu que cerca de 4400 pessoas desenvolveram algum tipo de cancro, doenças cardiovasculares ou diabetes após o período de acompanhamento do estudo e que aquelas que consumiram maiores quantidades de alimentos ultraprocessados tiveram um risco 9% maior de sofrer duas doenças.
Contudo, os investigadores perceberam que a relação entre o desenvolvimento de doenças e este tipo de alimentos era maior com subgrupos específicos de alimentos ultraprocessados, como aqueles de origem animal ou bebidas açucaradas.
“Outros subgrupos, como pães e cereais ultraprocessados ou alternativas à base de plantas, não foram relacionados com o risco” de desenvolver esse tipo de doenças, explicou a equipa. Pelo contrário, os investigadores esclarecem pode haver um risco reduzido para as pessoas que comem pão e cereais ultraprocessados e para justificar isto a equipa aborda o alto teor de fibras destes alimentos.
“Não é necessário evitar completamente os alimentos ultraprocessados”, explica Heinz Freisling, um dos autores do estudo. “Em vez disso, o seu consumo deve ser limitado e deve ser dada preferência a alimentos in natura ou minimamente processados”, acrescenta.
Já Croker explica que as recomendações do Fundo Mundial para a Pesquisa do Cancro incluem limitar os alimentos processados ricos em gordura, amidos ou açúcares, evitar carne processada e comer muitos cereais integrais, vegetais, leguminosas e frutas.”.