A perceção relativa à passagem do tempo é uma capacidade importante que, no geral, os seres humanos têm e que tem impacto na gestão do dia-a-dia.
Vários estudos mostram, aliás, que a nossa percepção do tempo está intimamente relacionada com o bem-estar e estados emocionais, e que as alterações destes últimos podem influenciar a forma como percecionamos a passagem do tempo: por exemplo, quando sentimos que o tempo está a passar muito devagar é sinal de que estamos angustiados por algum motivo.
Por outro lado, quando parece que o tempo está a passar muito depressa, este pode ser um sinal de hiperfoco (ou seja, o foco total num assunto, tópico ou tarefa), uma caraterística comum de adultos com perturbação de hiperatividade e défice de atenção, conhecida por PHDA.
Algumas pessoas podem mesmo ter dificuldades em regular este “relógio interno”, acontecendo aquilo que os especialistas chamam de “cegueira temporal”.
Esta é uma condição que se refere à dificuldade ou incapacidade de perceber e gerir a passagem do tempo, ou recordar o momento em que certas memórias se criaram.
É frequentemente observado em pessoas com PHDA, por exemplo: investigações mais recentes sugerem que existe de facto uma relação entre a cegueira temporal e esta condição, que se carateriza por uma grande dificuldade em manter a atenção, impulsividade e hiperatividade.
No entanto, é possível que qualquer pessoa, em momentos específicos, possa ter uma sensação de perda da noção temporal, o que pode criar grandes constrangimentos.
Por exemplo, faltar frequentemente a compromissos familiares ou com amigos por ausência de gestão do tempo ou não realizar uma tarefa importante porque o foco numa única atividade foi excessivo podem ter um grande impacto na vida de quem sofre de cegueira temporal.
Sintomas da cegueira temporal e como lidar com ela
Para pessoas que sofram de “cegueira temporal”, existe uma maior dificuldade em realizar atividades e assumir responsabilidades que envolvam gestão do tempo, explica o psicólogo norte-americano Mark Travers, num artigo publicado na Psychology Today.
Nestes casos, pode haver momentos em que podem achar que estão a demorar muito mais tempo a realizar uma determinada tarefa do que aquilo que pensavam, ou o contrário, o que pode aumentar a ansiedade.
Cumprir prazos também é um objetivo difícil de concretizar para quem passa por este problema, que pode levar a atrasos contínuos em todos os parâmetros da vida, como reuniões e compromissos pessoais, e a grandes dificuldades em alternar entre tarefas durante o dia, já que pode ser muito complicado redirecionar o foco.
Outro sintoma muito comum de quem sofre de cegueira temporal é a procrastinação, ou seja, o adiamento de determinadas tarefas não por falta de vontade de as realizar ou por preguiça, mas devido a tentativas (falhadas) de perceber de quanto tempo precisa para fazer essas tarefas.
Pessoas com cegueira temporal também tendem a ser mais impulsivas e a tomar decisões de que, mais tarde, se arrependem, por falta de planeamento mental.
O método Pomodoro
Para lidar da melhor forma com os sintomas da “cegueira temporal”, Travers refere a importância de utilizar um calendário digital para controlar todos compromissos e eventos e perceber e definir prazos. “Depois de adicionar as suas responsabilidades ao calendário, pode definir lembretes para si mesmo com antecedência”, aconselha o especialista, acrescentando que uma opção também pode ser a definição de alarmes para a realização das diferentes tarefas.
Mark Travers fala também do método Pomodoro, que consiste em trabalhar ou estudar durante 25 minutos seguidos, mantendo o foco, e depois fazer uma pausa de 5 cinco minutos.
“Ao usar estes intervalos, tem tempo para respirar e garante, ao mesmo tempo, que não perderá tempo em nenhuma tarefa que tenha agendada no calendário”, afirma o psicólogo.
O especialista diz ainda que pode ser boa ideia dividir grandes tarefas que tenham de ser realizadas em algumas menores, definindo prazos para cada uma delas, para que a gestão do tempo seja alcançável em atividades menores. “Se terminar a tarefa menor dentro do prazo, ótimo. Caso contrário, pelo menos sabe que progrediu na tarefa que estava a adiar”, explica Travers.