Um novo estudo liderado por investigadores do Karolinska Institutet, na Suécia, indica que uma causa comum de hemorragia cerebral espontânea pode ser transmitida através de transfusão de sangue. Referem-se à angiopatia amilóide cerebral (AAC), uma doença que se caracteriza pela deposição de matéria amiloide na vasculatura cerebral, fragilizando-a e predispondo a eventos hemorrágicos intracranianos recorrentes. Segundo o estudo, quem recebe transfusões de dadores que, posteriormente, tiveram uma destas hemorragias, tem duas vezes maior probabilidade de sofrer do mesmo mal. Mas o risco é muito pequeno e não deverá preocupar quem precisa de uma transfusão.
As descobertas sugerem que algum fator que pode causar hemorragias cerebrais espontâneas pode ser transmitido desta forma. No entanto, estamos a falar de uma pequena percentagem (apenas 0,1 por cento), de dadores que sofreram subsequentemente de uma rutura de vasos sanguíneos no cérebro, por isso, é improvável que isso aconteça. É reconhecido ainda que mais pesquisas são necessárias para confirmar as conclusões e compreender o potencial mecanismo subjacente. “Este estudo não demonstra causalidade, portanto o aumento observado no risco pode depender de outros fatores”, explica Jingcheng Zhao, um dos coautores.
“O possível valor do nosso estudo está em sabermos mais sobre a biologia e a causa dessas doenças”, disse outro coautor do estudo, Gustaf Edgren, cardiologista e epidemiologista do Karolinska. Nesta investigação de coorte retrospetiva, Edgren e a restante equipa usaram dados de mais de 1 milhão de dadores e recetores de sangue na Suécia e na Dinamarca (idade média entre os 64 e os 65 anos), recolhidos entre 1970 e 2017. “As transfusões de sangue são relativamente comuns, o que torna os possíveis efeitos negativos um importante problema de saúde pública.”
O ponto de partida foi a existência de outros estudos que já tinham demonstrado que a AAC pode ser transferida através de neurocirurgia ou de tratamento com um certo tipo de hormona do crescimento, derivada diretamente de tecidos humanos. Isso indicava que algum fator de risco biológico de predisposição para a doença poderia ser transferido de pessoa para pessoa. Para os investigadores, o maior mérito desta descoberta está, de facto, no apoio a esta tese.