Em novembro, fará dois anos que em Portugal é proibido vender artigos de plástico, como as palhinhas. Uma medida imposta para reduzir o impacto de produtos de plástico de utilização única e de produtos feitos de plástico oxodegradável. O facto de estes tubinhos para sorver líquidos serem muito pequenos faz com que não sejam reciclados, o que torna a sua utilização de uso único tão problemática e, muitas vezes, desnecessária.
Por conta disso, as empresas têm vindo a substituir as palhinhas de plástico por outras, feitas de materiais mais sustentáveis, como as de papel ou de bambu.
Contudo, um novo estudo, publicado na revista Food Additives and Contaminants, concluiu que a grande maioria das palhinhas de papel testadas continham produtos químicos sintéticos, substâncias perfluoroalquiladas, conhecidas como PFAS ou, mais informalmente, como produtos “químicos eternos”, que não se decompõem no corpo ou no meio ambiente.
“As palhinhas feitas de materiais vegetais, como papel e bambu, são frequentemente anunciadas como sendo mais sustentáveis e ecológicas do que as feitas de plástico. No entanto, a presença de PFAS significa que isso não é necessariamente verdade”, alerta Thimo Groffen, autor do estudo e cientista ambiental da Universidade de Antuérpia, em comunicado de imprensa.
Os investigadores do estudo examinaram palhinhas de 39 marcas na Bélgica, vendidas em supermercados, lojas de brinquedos, cadeias de fast-food, drogarias e lojas de comércio eletrónico. As palhinhas escolhidas eram feitas de papel, bambu, vidro, aço inoxidável ou plástico, e a análise incidia nas concentrações de PFAS.
Sessenta e nove por cento das marcas continham PFAS, sendo as palhinhas de papel mais propensas a conter produtos químicos. Os cientistas descobriram que 90% das palhinhas de papel tinham PFAS, em comparação com 80% das de bambu, 75% das de plástico e 40% das de vidro. Além disso, uma marca específica de palhinhas de papel continha a maior concentração de PFAS.
O ácido perfluorooctanóico (PFOA) foi o PFAS mais comum encontrado nas palhinhas. Apesar de já não ser fabricado nos EUA, ainda o é noutros países e poderia estar presente em artigos comprados por consumidores norte-americanos, de acordo com a Sociedade Americana do Cancro.
Os PFAS foram introduzidos, pela primeira vez, na década de 1940 para ajudar os produtos a resistirem ao óleo, à água e à graxa. Mas, também podem entrar na cadeia alimentar através de plantas, animais e centros de processamento contaminados.
Pequenas quantidades de PFAS não representam risco – embora faltem estudos sobre os efeitos em humanos. No entanto, a acumulação de produtos químicos no corpo pode causar efeitos nocivos para a saúde devido a alterações nas enzimas hepáticas, aumento da pressão arterial e certos tipos de cancro, de acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC).
A maioria dos estudos feitos em animais sugere que quantidades mais significativas de PFAS no corpo podem afetar o crescimento e o desenvolvimento, bem como danificar o fígado e o sistema imunológico, de acordo com o CDC.
Uma preocupação que levou a Food and Drug Administration (FDA), agência que regula os alimentos e os medicamentos nos EUA, a testar alimentos desde 2019 para estimar o nível de exposição da população.
Os investigadores notaram que a quantidade de PFAS detetada nas palhinhas era globalmente baixa e levantaram a hipótese de que tanto o solo contaminado na produção de palhinhas vegetais (bambu e papel), como o processo de fabrico, poderia levar à deteção de PFAS. Também não foi compreendido se os produtos químicos se estavam a infiltrar nos próprios líquidos.
Na dúvida, Thimo Groffen aconselha: “A presença de PFAS em palhinhas de papel e de bambu mostra que não são necessariamente biodegradáveis. Não detetámos nenhum PFAS em palhinhas de aço inoxidável, por isso, aconselho os consumidores a usarem esse tipo de palhinha ou, simplesmente, evitarem-nas.”