Os investigadores de um estudo apresentado no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, no passado fim de semana, analisaram o risco associado à interrupção do uso de aspirina a longo prazo em comparação com o uso continuado após um ataque cardíaco, acidente vascular cerebral ou evento cardiovascular.
Para analisar o risco associado à interrupção do uso de aspirina, foram analisados os dados do registo nacional de saúde dinamarquês, abrangendo mais de 40 mil pessoas pessoas, com 40 anos ou mais, que tiveram um primeiro ataque cardíaco entre 2004 e 2017.
Os investigadores avaliaram a utilização de aspirina em quatro momentos distintos: dois, quatro, seis e oito anos após o ataque cardíaco. Foi possível observar que o uso de aspirina diminuía em cada ponto de controlo. Dois anos após o AVC, 90% continuaram a utilizar aspirina enquanto passado oito anos a adesão diminui para 81 por cento.
As pessoas que tomaram aspirina de acordo com a prescrição tinham menos probabilidades de sofrer outro evento do que as pessoas que não aderiram ao tratamento nos quatro momentos.
No seguimento de dois anos, os participantes que deixaram de tomar aspirina tinham 29% mais probabilidades de sofrer um novo ataque cardíaco enquanto no seguimento de quatro anos a percentagem aumentou para 40 por cento.
No entanto, apesar dos efeitos da aspirina em pacientes que já tiveram ataques cardíacos, um outro estudo, publicado na revista JAMA, observou que não há um número suficiente de pessoas que poderiam beneficiar da aspirina a tomá-la.
Para este estudo, foram analisados dados de 51 países onde já tinham sido realizados inquéritos entre 2013 e 2020. Sete dos inquéritos foram realizados em países de baixo rendimento, 23 em países de rendimento médio-baixo, 14 em países de rendimento médio-alto e 7 em países de rendimento elevado.
Participaram no inquérito mais de 124 500 adultos com idades compreendidas entre os 40 e os 69 anos e foram recolhidas informações acerca do seu historial de doenças cardiovasculares e a utilização de aspirina. Entre os quase 125 mil adultos, mais de 10.500 referiram ter doenças cardiovasculares, mas apenas cerca de 40% afirmaram tomar aspirina para prevenir outro ataque cardíaco.
O uso de aspirina também varia de país para país. A percentagem de pessoas que tomam aspirina regularmente após ter tido um AVAC é de 16,6% nos países de baixos rendimentos, como o Afeganistão, o Benim e a Etiópia, e 65% nos países de rendimentos elevados, como a Chéquia, o Reino Unido e os EUA.
“Esperávamos que as taxas de utilização de aspirina para prevenção secundária fossem muito mais elevadas. Particularmente, penso que, globalmente, tem havido uma ênfase na melhoria da saúde cardiovascular, e um dos esforços é melhorar a utilização de alguns destes medicamentos baseados em evidências”, disse à CNN, Sang Gune Yoo, um autor do estudo e membro da divisão cardiovascular da Washington University School of Medicine em St. Louis, nos Estados Unidos.
Por prevenção secundária, entende-se a utilização de aspirina para mitigar o risco de futuros ataques cardíacos enquanto a prevenção primária é o uso de aspirina para reduzir o risco de um primeiro evento cardiovascular.
A relação risco-benefício da prevenção primária ainda não é clara para os investigadores, mas a prevenção secundária mostra que o uso de aspirina reduz largamente os riscos para as pessoas com antecedentes de doenças cardiovasculares.
“O que o nosso estudo está a realçar é que, apesar dos esforços que estão a ser feitos para melhorar a saúde cardiovascular a nível mundial, a aspirina continua a ser subutilizada nas prevenções secundárias”, afirmou Sang Gune Yoo, citado pela CNN.
“Dado que continua a ser a causa número um de mortalidade, é muito importante que os sistemas de saúde e os países criem estratégias para melhorar a utilização da aspirina, bem como de outros medicamentos cardiovasculares”, acrescentou.