Lisboa, 06 abr 2023 Lusa) —
Segundo o estudo, os números da população portuguesa em 2018 aproximam-se muito mais de um panorama em que adultos cumprem atividade física e desportiva segundo os critérios da OMS, segundo explicou à Lusa o coordenador de um consórcio que utilizou fenotipagem digital para chegar a estes resultados.
O professor catedrático Luís Bettencourt Sardinha, que encabeça o Laboratório de Exercício e Saúde da Faculdade de Motricidade Humana (Universidade de Lisboa), explica à Lusa que os números obtidos por fenotipagem digital, isto é, “com acelerómetros que se colocam à cintura”, avaliando objetivamente se a pessoa fez mais ou menos atividade física, e a sua intensidade, comprovam estes números.
A amostra total, que inclui também crianças e adolescentes e pessoas idosas, ascende a 6.369 pessoas, tendo sido feito um comparativo com 2008, primeira altura em que a tecnologia foi usada pelo consórcio, que agrega ainda Universidade do Porto, Universidade de Coimbra, Universidade de Évora e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
“Isso significa que Portugal faz parte de um grupo muito pequeno, que inclui Estados Unidos, Suécia e Canadá, com esta avaliação objetiva em dois momentos diferentes. Outros países já estão a utilizar esta tecnologia, esta fenotipagem digital, vamos chamar-lhe assim, ou seja, caracterização digital. Porque não fica dependente de questionários. Não fica dependente da interpretação das pessoas”, avança.
No Dia Mundial da Atividade Física, em que são apresentados os dados recolhidos pelo Sistema de Vigilância e Monitorização da Atividade Física e Desportiva numa sessão na Faculdade de Motricidade Humana, Bettencourt Sardinha nota que em 2018 15,4% das crianças e jovens e 30,6% de pessoas idosas em Portugal cumpriam também com os mesmos parâmetros da OMS.
“Definem que, para as crianças e adolescentes, é um valor médio semanal de 60 minutos de atividade física moderada a vigorosa. O acelerómetro, com os algoritmos, calcula isto. Nos adultos e idosos, é um valor médio semanal de atividade física moderada de pelo menos 150 minutos”, acrescenta.
Olhando para a questão por género, “as raparigas, comparativamente com os rapazes”, são menos ativas, nas idades mais baixas, e nos adultos os homens “tendem também a ser mais ativos”, com um aumento de 7% na década analisada, contra 5% nas mulheres, e nos idosos há uma tendência inversa no masculino, com uma quebra de cerca de 8%.
O Eurobarómetro divulgado no final de 2022, nota o professor catedrático, decorreu com base num questionário telefónico e com pouco mais de mil pessoas, afirmando que 73% dos adultos “não realiza exercício ou algum tipo de atividades desportivas”.
“Está bem descrito na literatura: tem a ver com a forma como cada pessoa interpreta as perguntas. A metodologia é similar em todos os países, do Eurobarómetro, mas diferenças de natureza cultural podem ter um viés sobre como dada pergunta é interpretada”, comenta.
De forma simples, “será que quando se faz a pergunta a um português, a uma pessoa que caminha e faz diferentes atividades, diz que não? E um sueco ou um finlandês?”.
“Se calhar dizem que sim, tem a ver com a perceção. Para um português, se calhar é o andebol e o voleibol” que contam, analisa.
Além do trabalho tecnológico, foi colocada a mesma pergunta do Eurobarómetro, e os investigadores notaram que 56% das mulheres e 72% dos homens dizem que não realizam atividade física, mas cumprem com os valores do OMS, o que pode ajudar a explicar a diferença entre abordagens.
A fechar, o professor catedrático deixa a recomendação de que mais países possam ter um sistema que integre e otimize “instrumentos de avaliação objetiva envolvendo tecnologias digitais”, para que “todas as recomendações e sistemas mundiais de informação” assentem em “bases sólidas” das práticas nacionais.
Os resultados, hoje apresentados em Lisboa, foram publicados num artigo divulgado na Medicine & Sciense in Sports & Exercise, publicada pelo American College of Sports Medicine, dos Estados Unidos, estabelecida em 1969 e com revisão de pares, após um trabalho financiado também pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ).
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