O que é a gripe das aves e porque pode ser tão devastadora?
A gripe aviária é uma doença infeciosa viral que atinge aves selvagens, de capoeira e outras aves mantidas em cativeiro. Este vírus, do subtipo H5N1, foi considerado de alta patogenicidade, porque provoca mortalidade muito elevada, especialmente nas aves de capoeira, com um impacto importante na saúde das aves domésticas e selvagens, bem como na produção avícola, uma vez que constitui motivo de suspensão da comercialização de aves vivas e seus produtos nas zonas afetadas. No Reino Unido, as associações de avicultores têm demonstrado a sua preocupação quanto ao fornecimento do peru de Natal, caso o surto continue a espalhar-se.
Qual tem sido o alcance na Europa desta pandemia da gripe das aves?
A época epidémica de 2021-2022 de gripe das aves é a maior de sempre na Europa, com uma extensão geográfica inédita a 37 países, incluindo Portugal, alerta o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, na sigla em inglês). Estamos a falar de uma epidemia que vai desde as ilhas Svalbard, um arquipélago no Ártico que pertence à Noruega, até ao sul do nosso País.
Houve um total de 2.467 surtos em aves de capoeira, 48 milhões de aves abatidas nos estabelecimentos afetados e 187 deteções em aves de cativeiro. Foram ainda registados 3.573 casos de gripe aviária de alta patogenicidade em aves selvagens, avança o relatório da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA). “À medida que a migração do outono começa e o número de aves selvagens que passam o inverno na Europa aumenta, elas provavelmente correm maior risco de infeção por gripe aviária altamente patogénica do que nos anos anteriores devido à persistência observada do vírus na Europa”, aponta Guilhem de Seze, do departamento de avaliação de risco da EFSA.
Quantos casos foram encontrados em Portugal?
Entre 30 de novembro de 2021 e 29 de setembro, a Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) detetou 31 focos de infeção pela gripe aviária. O último foi confirmado numa exploração comercial de perus de engorda, na freguesia de Abrigada e Cabanas de Torres, concelho de Alenquer, distrito de Lisboa. “A notificação de qualquer suspeita deve ser realizada de forma imediata, para permitir uma rápida e eficaz implementação das medidas de controlo da doença no terreno”, alerta a DGAV.
Quais são os principais sinais da doença nas aves?
Segundo a DGAV, “frequentemente, a gripe aviária de alta patogenicidade causa a morte súbita das aves afetadas. Além disso, podem ocorrer os seguintes sinais clínicos: apatia muito evidente, dificuldades respiratórias, cristas arroxeadas, penas eriçadas, corpo em bola. Os bandos infetados podem apresentam quebras no crescimento ou na produção de ovos, diminuição da ingestão de água e de ração e aumentos acentuados e súbitos de mortalidade”.
Há riscos para os humanos?
Segundo o ECDC, “apesar do número excecionalmente grande de casos recentemente detetados em aves, bem como de numerosos eventos de transmissão de gripe aviária a diferentes espécies de mamíferos, não foi observada qualquer transmissão humana na União Europeia e no Espaço Económico Europeu (UE/EEE) nos últimos anos”. Já a nível mundial, foi registado um pequeno número de infeções humanas assintomáticas ou com sintomas leves, pelo que o “risco global para a população permanece em níveis baixos, mas ligeiramente superior para as pessoas com profissões que estão diretamente expostas a aves infetadas”. Recorde-se que, no passado, houve outros casos de vírus da gripe que circulavam em espécies animais, que afetaram a saúde de seres humanos, como o da gripe aviária H5N1 no Egito ou o H7N9 na China. Contudo, para serem transmissíveis a pessoas, “é necessário que ocorra um contacto direto e estreito com as aves doentes. O vírus não é transmissível às pessoas através do consumo de carne de aves e de ovos”, sublinha a DGAV.
Que pessoas poderão estar mais em risco?
Os profissionais de saúde pública deverão estar atentos à “necessidade de testar infeções em pacientes com doenças respiratórias e exposição recente a animais potencialmente infetados”, aponta o ECDC. Além disso, “o teste para influenza zoonótica também deve ser considerado em pacientes com doença respiratória aguda grave de origem desconhecida, bem como em pacientes gravemente doentes com exposição prévia a animais”.
Que medidas de proteção devem ser adotadas?
“É vital que os médicos, peritos de laboratório e especialistas em saúde, tanto nos setores animal como humano, colaborem e mantenham uma abordagem coordenada. É necessária vigilância para identificar as infeções com vírus da gripe o mais cedo possível”, salienta Andrea Ammon, diretora do ECDC. Entre as orientações divulgadas esta segunda pelo centro europeu, está o reforço da adoção de medidas de segurança e saúde nos locais de trabalho onde não é possível evitar o contacto com animais, que devem rever periodicamente a sua avaliação de risco e assegurar que são tomadas todas as medidas técnicas, organizativas, de manutenção e de higiene necessárias para prevenir a infeção dos trabalhadores. Em Portugal, a DGAV lançou o folheto “7 passos para manter a gripe das aves fora da sua capoeira”. É preciso estar especialmente atento na época migratória das aves selvagens, que infetam o meio ambiente através dos seus excrementos e podem, eventualmente transmitir a aves domésticas. Aves aquáticas, como gansos e gaivotas, são os reservatórios naturais das gripes aviárias.