Um novo estudo estabelece uma ligação entre a vacinação contra a Covid-19 e um ligeiro aumento na duração do ciclo menstrual.
A descoberta vai de encontro a afirmações por parte de algumas mulheres que, nas redes sociais, relatam ter sofrido alterações no ciclo menstrual após a toma da vacina.
No entanto, os autores do estudo advertem que a alteração não representa motivo de preocupação.
Para o estudo, que figura na publicação científica Obstetrics & Gynecology, foram analisados dados de quase quatro mil mulheres que utilizaram a aplicação Natural Cycles para monitorizar os seus ciclos menstruais.
Entre as participantes, que eram residentes nos EUA, com idades entre os 18 e os 45 anos e com ciclos de duração normal (entre 24 a 38 dias), encontravam-se cerca de 2400 que foram vacinadas e 1600 que não foram.
“No geral, a vacina contra a Covid-19 foi associada a uma alteração de menos de 1 dia na duração do ciclo para ambos os ciclos de vacina em comparação com os ciclos de prevenção”, escreveram os investigadores.
No entanto, não houve qualquer alteração na duração da fase da menstruação.
Alison Edelman, médica ginecologista e obstetra e professora na Universidade de Saúde e Ciência do Oregon, Portland, e a principal autora do estudo, defende que é importante recolher informação sobre estas alterações.
“Digamos que ninguém lhe disse que ia sentir febre depois de ter tomado a vacina contra a Covid-19. Pensaria: ‘O que acabou de acontecer?'”, diz. “E as pessoas têm relações diferentes com o seu ciclo menstrual. Para algumas pessoas, talvez estejam a planear uma gravidez ou a tentar evitar uma gravidez. Mesmo um dia de diferença – e isso é um valor médio – pode ser desconfortável”.
No entanto, a equipa reforça que esta alteração é temporária e não é um motivo de preocupação.
“O resultado final é que achamos realmente que estas descobertas são tranquilizadoras para a saúde em geral e para a saúde reprodutiva, e que se articulam com dados igualmente tranquilizadores sobre a segurança das vacinas Covid-19 no que diz respeito à gravidez e à fertilidade, assegura Edelman.
Apenas 5% das participantes no estudo reportaram uma mudança clinicamente significativa no seu ciclo de mais de oito dias, embora esta taxa tenha sido semelhante no grupo das mulheres não vacinadas.
“O estudo, por um lado, valida o que algumas mulheres disseram nas redes sociais”, diz Diana Bianchi, diretora do Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano Eunice Kennedy Shriver dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA – agência governamental que financiou o estudo.
“Mas em geral, a nível da saúde da população, esta ligeira mudança não tem realmente significado clínico. Não deve afetar a fertilidade, e os benefícios de ser vacinado e não apanhar Covid-19 – mesmo uma versão mais leve, da variante Omicron – são muito maiores. Não se deve realmente hesitar em ser vacinado”, continua.
Bianchi realça ainda o facto de o estudo olhar para o impacto das vacinas nos ciclos menstruais, uma área geralmente pouco estudada.
“A maioria dos ensaios de investigação clínica não recolhe rotineiramente informação sobre como uma intervenção afecta o ciclo menstrual. Tanto quanto sei, esta é a primeira vez que se fala do facto de uma vacina poder afectar o ciclo menstrual. Não se ouve isto em relação a uma vacina contra a gripe, por exemplo”, explica. “Por isso, esperamos que isto esteja realmente a sensibilizar para a importância de recolher informação sobre o ciclo menstrual quando qualquer intervenção for contemplada”.
Bianchi espera também que os dados do estudo possam contribuir para reduzir os números de mulheres grávidas, puérperas, que estão a tentar engravidar ou em idade reprodutiva que ainda hesitam em ser vacinadas.
Os autores consideram, no entanto, que é necessária investigação adicional para analisar os potenciais efeitos da vacinação noutras características do ciclo menstrual, como sintomas associados e características da hemorragia.